Folha de Londrina

ABRAHAM SHAPIRO

Tudo o que se faz requer teoria, prática, sensibilid­ade e uma boa dose de repetição.

- ABRAHAM SHAPIRO

Já vivi bastante para saber que tudo o que se faz neste mundo requer teoria, prática, sensibilid­ade e uma boa dose de repetição”

Ouvi um empresário dizer a um de seus funcionári­os: - “Eu não preciso de formação alguma. Aprendo e faço qualquer coisa que eu desejar ou precisar. Se tiver de fazer uma cirurgia cardíaca, por exemplo, eu vou descobrir quais são os dez melhores livros do mundo desta área, estudá-los e farei a tal cirurgia!”.

Eu não suportei tamanha petulância. E mesmo convicto de que nunca devo permanecer diante de um bode, atrás de um jumento, ou a qualquer lado de um tolo, dei o meu palpite:

- “Creio que, mesmo lendo todos os livros já escritos nesse planeta sobre como tocar piano, você jamais interpreta­ria uma sonata de Beethoven ou uma Fuga de Bach. Nem a mais simples delas!”

Eu acredito no autodidata – pessoa que tem a capacidade de aprender algo sem um professor ou mestre lhe ensinando ou ministrand­o aulas. O próprio indivíduo, com seu esforço particular intui, busca e pesquisa o material necessário para sua aprendizag­em.

O autodidati­smo é alvo de estudos acadêmicos devido especialme­nte à expansão dos sistemas educaciona­is on-line. Tais estudos visam a compreensã­o das práticas pedagógica­s, a relação entre o uso de tecnologia e a concepção de conhecimen­to e educação envolvidas no processo.

Dentre autodidata­s famosos, podem ser citados o 16º presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, os escritores Ray Bradbury, Machado de Assis e o polímata Leonardo da Vinci.

Gosto muito de ler e fui criado no meio de montanhas de livros. Mas já vivi bastante para saber que tudo o que se faz neste mundo requer teoria, prática, sensibilid­ade e uma boa dose de repetição, de modo a levar os resultados desde o nível medíocre até ao da máxima expertise. É assim com o cirurgião, com o músico instrument­ista, com o lapidador de diamantes, com o designer, o pedreiro, o marceneiro ou o mecânico.

E por estes comentário­s, acabo de declarar a razão por que não vejo com bons olhos jovens recém-formados ocuparem a posição de professore­s universitá­rios. Se eles realmente forem bons, só ser na teoria. E teoria nas áreas profission­ais, como todos sabem, é, na melhor hipótese, a terça parte de tudo o que se deve saber.

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