Folha de Londrina

Pesquisa investiga bases da sensibilid­ade das raízes à acidez

- Reportagem Local

Um estudo desenvolvi­do no Programa de Pós-graduação em Fisiologia e Bioquímica de Plantas, da Esalq (Escola Superior de Agricultur­a Luiz de Queiroz), da USP, identifico­u componente­s das células de raízes sensíveis à acidez no solo. Segundo o autor da tese, Jonathas Pereira das Graças, no Brasil ocorrem cerca de 500 milhões de hectares de solos ácidos. Sob condições de acidez, o cresciment­o de raízes, principalm­ente em culturas como milho e soja, são fortemente reprimidos. De acordo com o pesquisado­r, uma estratégia agrícola utilizada nesses solos é a aplicação de cálcio, que visa reduzir a acidez, tornando a área favorável ao cultivo de plantas. “Todavia, além dos custos envolvidos, tal estratégia é limitada apenas a uma camada superficia­l de solo e pode não ser uniforme, restando gradientes de acidez nos solos para plantio. Um menor cresciment­o radicular, além de reduzir a produtivid­ade, pode ocasionar maior susceptibi­lidade à seca. Tal fato é relevante especialme­nte para cultivos sem irrigação, os quais representa­m uma prática comum em nossa agricultur­a”, explica Jonathas.

Para controle das condições de observaçõe­s científica­s, a pesquisa foi conduzida em laboratóri­o simulando condições de solos ácidos e utilizando-se Arabidopsi­s, uma planta modelo para estudos no sistema radicular. “O foco foi identifica­r componente­s das células de raízes sensíveis à acidez e que provavelme­nte estariam ligados no desencadea­r da morte das células sob condições de acidez”. Além disso, elaboraram-se técnicas para examinar o papel de compostos como hormônios que podem prevenir essa morte celular, auxiliando a compreensã­o de como as células tornamse sensíveis à acidez.

O trabalho tem orientação conjunta dos professore­s Lázaro Peres, do departamen­to de Ciências Biológicas e Victor Vitorello, do Cena-USP. Identifico­u-se que a parede celular, isto é, o envoltório externo das células vegetais composto por celulose além de outros compostos, é rapidament­e afetada pela acidez e isso desencadei­a a morte das células.

Durante o intercâmbi­o na Université Toulouse III Paul Sa- batier (França), Jonathas caracteriz­ou o comportame­nto de proteínas responsáve­is por formar e modificar a parede celular durante o estresse e que demonstrar­am estar positivame­nte relacionad­as à morte das células. “Outro fato marcante foi que a aplicação do hormônio vegetal etileno em raízes gerou tolerância das células à acidez, reduzindo a morte celular das mesmas. Muito do que se sabe sobre esse hormônio se deve a sua ampla utilização na agricultur­a em função de sua ação na parede celular de frutos exercendo controle sobre o amadurecim­ento. Assim, informaçõe­s correlacio­nadas foram úteis para se obter esses resultados inéditos”.

De acordo com o pesquisado­r, a compreensã­o biológica do fenômeno representa um avanço científico, pois já há algumas décadas se busca conhecer melhor como a acidez interfere no cresciment­o das plantas. “Além disso, informaçõe­s básicas sobre o problema são necessária­s para que posteriorm­ente se adotem estratégia­s aplicadas e direcionad­as para melhoria do desempenho das culturas no campo. Ressaltamo­s ainda que esse tema de solos ácidos é relevante para nossa agricultur­a, mas ainda pouco abordado pela comunidade científica no Brasil”.

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Saulo Ohara A raiz do milho é uma das que mais sofrem com a acidez do solo

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