Meu amigo reaça
Conheci o Silvio Grimaldo há 15 anos, quando ambos escrevíamos para o falecido portal de blogs Tipos. O nome do meu blog era “Repórter das Coisas”; o blog dele era “No País dos Bruzundangas”. Começamos a nossa amizade assim, leitores um do outro. Diz a lenda que nessa época nos vimos pela primeira vez durante uma Quinta Sem-Lei no Bar Brasil, mas o nosso estado etílico na ocasião não permitiu posteriores lembranças do episódio.
Pouco depois descobri que o Silvio, além de sociólogo formado na USP (o importante é ter saúde), era o braçodireito e um dos principais alunos do filósofo Olavo de Carvalho, já então de mudança para os Estados Unidos.
Não hesito em dizer que a amizade com o Silvio é um dos acontecimentos mais importantes da minha vida intelectual. Graças a ele, tornei-me aluno e amigo do Olavo; descobri uma infinidade de autores e livros que nunca me seriam apresentados em outros ambientes; e me tornei amigo de sujeitos brilhantes que eu jamais teria conhecido por outros meios.
Na época do Tipos, eu e ele éramos considerados blogueiros “reaças”, por não participarmos da glorificação universal de Lula e da esquerda. No entanto, eu ainda carregava uns resquícios da minha formação esquerdista, que se manifestavam na forma de um libertarianismo meio ginasiano (e existe algum que não seja?). Digo, sem a mais microscópica dúvida, que o Silvio é responsável direto por eliminar essas últimas toxinas revolucionárias e gnósticas da minha atormentada alma.
Silvio nunca foi um ateu comunista como eu fui. Leu todas as porcarias marxistas que eu li, mas nunca se deixou convencer por elas. O máximo de ímpeto revolucionário que se permitiu foi ser baixista de uma banda punk. Essa atitude, combinada com o fato de estudar Sociologia na USP, certamente lhe granjeou fama durante um certo período — fama essa que rapidamente se esvaiu pelos ralos do DCE na Rua Hugo Cabral assim que os companheiros descobriram sua amizade com Olavo de Carvalho.
Do tempo do Tipos para cá, a vida seguiu e nós passamos a cometer um número menor de besteiras. Casamos: eu com a Rô, ele com a Deise. Elas deram um jeito em nós. Nasceram o Pedro e o Tomás; o PT e a esquerda, que nós já combatíamos desde o tempo em que não era modinha, revelaram-se a máquina monstruosa que sempre foram (não foi por falta de aviso!); lemos um bocado de livros e nos tornamos um pouco menos burros. Também estivemos presentes um para o outro nos momentos de dor: quando minha mãe estava no Hospital do Câncer, em 2011, foi o Silvio que levou o querido padre Oswaldo para que ela recebesse o último sacramento.
Hoje em dia eu e o Silvio fazemos junto o Clube do Livro na Acil, que recentemente foi tema de reportagem aqui na Folha. Nada pagaria a dívida moral que eu tenho com ele, mas espero que esta crônica seja um começo. Parabéns, meu amigo. Como diria algum reaça caipira: — É nóis e ninguém nos déte!