Dor de cabeça
Imóveis servem de abrigo para moradores de rua e se deterioram com o tempo
Abandono de prédios é comum em Londrina. Imóveis emblemáticos, como o Mercado Quebec e o antigo Itaú do Calçadão, estão à mercê do tempo. Vizinhança sofre com a insegurança e a falta de cuidado com os espaços. Aparecimento de focos do mosquito da dengue também preocupa.
Antes de grande utilidade para a população, prédios emblemáticos em Londrina estão com sinais de abandono e se transformaram em motivo de preocupação. Pessoas que trabalham, moram ou precisam transitar por estes lugares reclamam da insegurança e descuido com as estruturas. Um dos espaços é o antigo Mercado Municipal Quebec, na rua Humaitá, na zona sul da cidade. A edificação, que pertence à Cohab (Companhia de Habitação), foi solicitada pela Secretaria de Educação com a justificativa de receber a sede da pasta.
O mercado, que só tinha um bar em funcionamento, acabou fechado em maio de 2017. Porém, desde então, a secretaria não foi transferida para o local e a reforma prometida ainda não saiu do papel. Atualmente, a área está sendo utilizada por moradores de rua e indivíduos que aproveitam o pátio para consumir bebida alcoólica. No longo terreno é possível encontrar muita sujeira, sofás e colchões velhos e restos de garra- fas e de alimentos, que aparentam terem sido preparados no próprio espaço.
Além disso, há um forte odor e o prédio está todo danificado, com vidros quebrados, paredes pichadas e caixa de luz sem nenhum equipamento. O deque de uma das entradas está com várias madeiras soltas e lascas com pregos viradas para cima, oferecendo perigo para possíveis curiosos. De acordo com moradores, é comum ver pessoas despejando lixo nas dependências e pedintes arrumando apetrechos para pernoitar.
“Isso vai criando insegurança no bairro e preocupação. Precisam dar uma destinação correta para o prédio, assim como prometido. Se isso vai demorar, que então melhorem a segurança e condições da própria rua, que por conta das árvores é escura. Daqui um pouco pode ficar intransitável”, incomoda-se o engenheiro agrônomo Walter Santos, que mora próximo. Até a tradicional “Feira da Lua”, que acontece no lugar destinado ao estacionamento, perdeu a atratividade. “Agora só tem uma ou outra barraquinha”, constata.
Outro receio é com a possibilidade de proliferação do mosquito Aedes Aegypti com o acúmulo de água. O Liraa (Levantamento Rápido do Índice de Infestação do Aedes aegypti) de fevereiro mostrou índice de 12,41% na região sul. “A região já está com número alto de dengue e temos aqui um prédio público que está abandonado e podendo ser foco do mosquito. Não vemos limpeza constante”, conta o advogado Julio Barbeta, proprietário de um imóvel comercial nas intermediações do antigo Mercado Quebec.
CENTRO
Na avenida Paraná, no Calçadão entre as ruas Prefeito Hugo Cabral e Pernambuco, é o prédio onde funcionava um banco que está se deteriorando. O edifício faz parte da história de Londrina, pois foi ele palco do maior roubo a banco já registrado na cidade. Em 1987, criminosos invadiram a agência, que na época era administrada pelo Banestado (Banco do Estado do Paraná), e fizeram cerca de 300 reféns. Eles fugiram depois de sete horas de negociação, levando populares e 30 milhões de cruzados. Acabaram presos em São Paulo posteriormente.
No início dos anos 2000, o Banestado foi comprado pelo Itaú e o banco mudou de nome. Em fevereiro de 2016, a agência 4018 do banco Itaú deixou de atender o público londrinense. Logo após o fechamento tapumes foram colocados, impedindo qualquer tipo de ocupação, porém eles foram retirado. O acesso para o interior do prédio foi impedido com um muro de concreto, mas moradores de rua usam o espaço embaixo da marquise para morar. Até uma espécie de barraca foi montada, onde há muito lixo acumulado.
Segundo Narciso Pissinati, que trabalhou no antigo Banestado por cerca de 30 anos, o prédio pertence ao Fundep (Fundação Banestado de Seguridade Social), que reúne exfuncionários da instituição e que foi “absorvido” pelo Itaú. “Aquele prédio foi construído pelos funcionários em meados dos anos 1980 e era alugado para o banco. Quando o Itaú comprou o Banestado, ele assumiu a cota de previdência para administrar, incluindo os prédios. Já fui atrás para saber se eles pretendem dar uma destinação, mas nunca tenho resposta”, relata ele, que hoje é presidente do Sindicato Rural Patronal de Londrina.
Populares que passam pela estrutura e comerciários lamentam do aspecto que o mato e pichações trazem ao visual do Calçadão. “Já temos um Calçadão que está perdendo sua atratividade para as pessoas. Com um espaço deste em pleno centro da cidade é mais um ponto negativo, infelizmente”, elenca a vendedora Vera Batista. O imóvel tem três andares e ainda conta com uma área que era usada para estacionamento na rua Pio XII, que está fechada.