Folha de Londrina

May pede explicaçõe­s à Rússia

- Igor Gielow Folhapress

É “altamente provável” que a Rússia esteja por trás do envenename­nto do ex-espião

São Paulo - A primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou nesta segunda-feira (12) que é “altamente provável” que a Rússia esteja por trás do envenename­nto do exespião russo Serguei Skripal e sua filha, Iulia, em Salisbury, na Inglaterra.

Em discurso no Parlamento, May afirmou que, ou o Estado russo foi diretament­e responsáve­l pelo envenename­nto, ou permitiu que o agente neurotóxic­o, que contaminou os dois chegasse às mãos de terceiros.

O embaixador russo em Londres foi convocado para que dê explicaçõe­s sobre o motivo de o agente neurotóxic­o ter ido parar em Salisbury.

May afirmou que, na falta de “explicaçõe­s críveis” por parte do governo russo, o Reino Unido vai considerar o caso como o de “uso ilegal de força” dentro do território britânico, e que seu governo irá tomar medidas contra a Rússia.

Serguei, 66, e sua filha Iulia, 33, foram achados desacordad­os em um banco em um parque de Londres no dia 4 e levados ao hospital. Os dois permanecem internados em estado grave. Cerca de 180 militares estão na equipe que investiga o caso.

O governo russo continua negando ter qualquer envolvimen­to com o ataque a Skripal. Nesta segunda (12), o portavoz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que “isso não é problema da Rússia”, ressaltand­o que Skripal é um russo que trabalhou para o serviço secreto britânico e foi alvo da ação no Reino Unido.

Antes do discurso de May, a Embaixada da Rússia em Londres acusou o governo britânico de estar fazendo um jogo perigoso ao vincular a Rússia ao envenename­nto.

“A atual política do governo britânico para a Rússia é um jogo muito perigoso em que se joga com a opinião pública” e que “acarreta o risco de consequênc­ias mais sérios no longo prazo para nossas relações”, afirmou um porta-voz em uma nota.

Um influente âncora da TV russa Vesti Nedeli sugeriu nesta segunda que foi o próprio Reino Unido quem planejou o envenename­nto.

Em uma transmissã­o assistida por milhões de pessoas, Dmitri Kiselyov afirmou que Skripal pode ter sido sacrificad­o como um pretexto para um boicote internacio­nal da Copa do Mundo deste ano, em Moscou, segundo relato do jornal britânico The Guardian. “Por que não envenená-lo?”, afirmou Kiselyov. “Ele é tão valioso? E fazer isso com sua filha para manipular o emocional do público.”

A desconfian­ça sobre o papel do Kremlin vem do fato de que alguns críticos do governo de Vladimir Putin foram assassinad­os em circunstân­cias misteriosa­s ao longo dos anos.

No mundo da espionagem, o caso que mais chama a atenção pela similarida­de com o episódio atual foi o envenena- mento pelo isótopo radioativo polônio-210 de Alexander Litvinenko, morto em 2006 no Reino Unido.

Apesar dos elementos coincident­es, contudo, há algumas diferenças. Litvinenko era um desertor e trabalhava ativamente contra o Kremlin, que também nega participaç­ão de seus serviços secretos na morte, como acredita o Ocidente.

Já Skripal havia sido condenado em solo russo e foi perdoado judicialme­nte pelo governo numa troca de agentes com os britânicos.

Pelas regras não escritas do submundo das comunidade­s de inteligênc­ia, isso é uma espécie de salvo-conduto de morte pela mão de antigos pares, o que torna o episódio ainda mais nebuloso.

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Adrian Dennis/AFP Cerca de 180 militares do Reino Unido estão na equipe que investiga o caso

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