SOB ESCOMBROS
Vítimas eram da mesma família – duas crianças, a mãe delas e um tio; bombeiros acreditam que as fortes chuvas causaram um colapso na estrutura
Desabamento de prédio de três andares, na manhã de ontem, matou quatro pessoas da mesma família em Salvador. Erguida em área de invasão, construção era recente e não tinha alvará. Três moradores escaparam com ferimentos leves. Vizinhos auxiliaram no resgate às vítimas
São Paulo e Salvador -O desabamento de um prédio de três andares na manhã desta terça-feira (13) em Salvador deixou mortas quatro pessoas da mesma família entre elas, um bebê.
O prédio, localizado no bairro de Pituaçu, caiu por volta das 6h. A construção era recente, não tinha alvará e foi erguida em área de invasão.
Segundo os bombeiros, morreram Robert Pereira, 12, o irmão Arthur, de apenas 1 ano, a mãe das crianças, Rosemeire Pereira, 33, e o irmão dela, Alan Pereira, 31.
Com o resgate do corpo de Rosemeire, última a ser retirada dos escombros, as buscas às vítimas foram encerradas no início da tarde.
Havia sete pessoas no imóvel que tem um porão, térreo, primeiro andar e laje. As vítimas estavam em um quarto.
Durante o resgate, não foi possível usar maquinário pesado. Marretas e equipamentos manuais abriram passagem entre os escombros para a localização das vítimas. Uma casa vizinha ao prédio precisou ser parcialmente demolida para facilitar as buscas.
Outras três pessoas dormiam na laje do imóvel e conseguiram escapar do acidente. Elas sofreram ferimentos leves porque foram atingidas por pedaços de telhas.
A hipótese dos bombeiros é que o terreno possa ter se movimentado e provocado o colapso da estrutura do prédio, também devido às fortes chuvas nas últimas horas.
Moradores auxiliaram os bombeiros e os técnicos da Defesa Civil no resgate às vítimas. Um deles foi o entregador Luciano dos Santos, 39. Ele acordou com o barulho da queda do prédio.
“Não esperava que pudesse ser o desabamento da casa. Uma vizinha me chamou e eu consegui, com ajuda de outros quatro vizinhos, resgatar o casal e o bebê de um ano que dormia na laje. Cheguei a cortar o pé e levar um choque andando sobre os escombros”, afirma Santos.
“Um vizinho ouviu um barulho e viu a casa com uma rachadura. Quando ele saiu para avisar, já encontrou a casa dos meus parentes desabada”, diz a empregada doméstica Eliana de Jesus, 30.
Ela conta que o imóvel havia sido erguido havia dois anos. “Aqui na favela o povo vai construindo. Ninguém solicita alvará e a prefeitura nunca apareceu para embargar.”
O desabamento do imóvel atingiu ainda três barracos de madeira próximos, mas nenhum morador se machucou.
Nos fundos do imóvel existem outros barracos e um rio, para onde corre toda água da chuva e do esgoto – não há rede coletora no local.
O diretor geral da Defesa Civil de Salvador, Sósthenes Macêdo, afirmou que a rua onde ocorreu o desabamento não está entre as 600 áreas de risco da capital baiana. Ele liga a ocorrência ao risco de construção, quando o imóvel é erguido sem seguir as normas de segurança da engenharia.
A prefeitura, em nota, confirmou que a moradia era irregular. “[O imóvel que desabou] foi construído recentemente de forma irregular e não ocupava área de risco.”
O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), disse que é impossível a administração fiscalizar todas as construções e pediu que as pessoas que vivem em imóveis ameaçados procurem a Defesa Civil.