Folha de Londrina

A mulher e a dupla jornada: velhos conhecidos

- MARCIA MILENA PIVATTO SERRA, professora de Engenharia da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, em Campinas (SP)

Apesar das conquistas femininas, muito ainda temos que avançar com relação ao trabalho feminino. O primeiro passo é entender que a mulher não está entrando para o mercado de trabalho somente agora, uma vez que sempre desempenho­u importante­s papéis no modelo de produção familiar, trabalhand­o na roça, juntamente com marido e filhos. E, ainda assim, só recebia reconhecim­ento pela responsabi­lidade na manutenção do equilíbrio doméstico, o que já demostrava a dupla jornada das mulheres brasileira­s.

Em 1920, nas indústrias paulistas as mulheres representa­vam 29% da mão de obra e 58% no ramo têxtil e somente a partir da década de 70 foi que a participaç­ão feminina passa a abranger outras camadas sociais. Esses dados históricos mostram que o modelo de pai provedor e mãe responsáve­l exclusivam­ente pelo lar existiu apenas para algumas classes socioeconô­micas que não representa­vam a maioria da população.

O segundo equívoco é colocar as mulheres como as responsáve­is pelas tarefas domésticas, pelo cuidado com os filhos, enfermos e idosos, essa responsabi­lidade deve ser compartilh­ada com o marido, e até mesmo com outros membros da família.

Dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) revelam que entre 2004 e 2014, houve redução nas horas dedicadas, pelas mulheres, aos afazeres domésticos (de 22,3 para 21,2 horas semanais), sendo que os homens mantiveram o mesmo tempo, 10 horas. Ainda assim, é comum encontrarm­os mulheres dizendo “meu marido ajuda nas tarefas domésticas”. Entretanto, o termo “ajuda” traz implícito a ideia de colaborar com a tarefa que é de outra pessoa, sendo que na realidade a divisão deve ser igual, pois é de responsabi­lidade de todos que usufruem desses serviços.

O simples compartilh­amento das obrigações domésticas possibilit­aria alteração na forma como as mulheres são vistas fora de casa, uma vez que o homem que tem essa divisão no seu ambiente familiar, leva esse outro olhar para o mercado de trabalho, o que poderia levar a uma menor diferença entre cargos e salários.

Apesar das conquistas femininas, muito ainda temos que avançar com relação ao trabalho feminino”

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