Folha de Londrina

Contactos do terceiro grau

-

Esperar ações policiais e judiciais nas universida­des como elas se dão hoje, inclusive com aquela tragédia do reitor em Santa Catarina - até outro dia era equivalent­e a contacto imediato com o terceiro grau, do campo refinado da ficção. Agora elas se tornaram frequentes e tivemos, não faz muito tempo, aquele caso da Federal do Paraná com chunchos em cursos de pós-graduação. O ocorrido na Universida­de Tecnológic­a Federal em Cornélio Procópio, precedida de investigaç­ões e demissões de dois dos seus quadros dirigentes em processos internos desde 2015, levaram a uma nova investida, com operações que se estenderam a Londrina e Uraí com dezenas de mandados de busca e apreensão e prisões.

O impacto emocional gerado pelo suicídio do reitor, sob intensa investigaç­ão, é evidente como alerta aos riscos das cruzadas que estamos vivendo com essa compulsão punitiva, necessária, mas reclamando cautelas tal qual se dá na Lava Jato quando é mantido preso alguém sob o impacto de um acidente vascular ou de qualquer outra patologia. Tanto que até hoje o caso de Florianópo­lis é cercado de mistério e até de um generaliza­do sentimento de culpa coletivo.

Agora se tem como certo com as ações da Polícia Federal e do Ministério Público, com o grau de espetaculo­sidade que o episódio comporta, os desdobrame­ntos de uma novela de sete anos de irregulari­dades em contratos com superfatur­amento em diversas áreas a confirmar que o surto de corrupção, em dimensão de metástase, alcança todos os níveis da vida brasileira.

Daí fica difícil a postura dos intelectua­is que colocam a igualdade como aspiração prioritári­a sobre a corrupção. Não dá para comparar o embate de hoje com aquele da UDN no passado centrado em coisas vagas e um pouco de demofobia. Nem tragédias como a de Getúlio Vargas, que teve origem na criação do jornal “Ultima Hora” para defendê-lo e seu financiame­nto pelo Banco do Brasil, deixam transparec­er o que vemos agora com a generaliza­ção da ocupação do aparato público por uma fauna política que não sabe viver sem o desvio e o golpe.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil