Folha de Londrina

DESPEDIDA -

Físico britânico, definido como “um grande cientista e um homem extraordin­ário”, morreu aos 76 anos, no Reino Unido

- Salvador Nogueira Folhapress

Stephen Hawking morreu na madrugada de ontem, aos 76 anos, em Cambridge, no Reino Unido. Considerad­o um dos cientistas mais importante­s da história, fez descoberta­s sobre buracos negros e a origem do universo. Conviveu por décadas com a esclerose lateral amiotrófic­a, doença degenerati­va que causa paralisia muscular. Pesquisado­r só podia falar por um sintetizad­or de voz baseado em texto digitado com os poucos movimentos que tinha.

São Paulo - Quando Stephen Hawking se aposentou, em outubro de 2009, a comoção tomou conta do mundo. Um cientista cuja carreira parecia condenada ao fim antes mesmo de começar não só cumpriu 30 anos de serviços prestados numa das mais prestigios­as vagas da Universida­de de Cambridge como contribuiu com muitas das ideias que ajudam a definir o Universo tal como é compreendi­do hoje.

O cientista morreu no início da madrugada desta quarta (14), aos 76 anos, em Cambridge, no Reino Unido. “Ele foi um grande cientista e um homem extraordin­ário cujo trabalho e legado vai viver por muitos anos”, disseram seus filhos Lucy, Robert e Tim, em comunicado, sem especifica­rem a causa da morte.

Nascido a 8 de janeiro de 1942 em Oxford, Inglaterra, Hawking desde cedo demonstrou interesse por matemática e astronomia, embora nunca tenha sido um aluno brilhante ou dedicado. Seu pai era biólogo, o que pode ter ajudado a despertar seu interesse por ciência.

No início de sua trajetória acadêmica, estudou física no University College de Oxford. Ao obter o bacharelad­o em 1962, foi para Cambridge, e logo que chegou começou a desenvolve­r os sintomas de uma rara e fatal enfermidad­e degenerati­va conhecida como esclerose lateral amiotrófic­a.

De progressão usualmente rápida, ela é caracteriz­ada pela crescente paralisia dos músculos, culminando com a incapacida­de de respirar e a morte. Seu médico havia predito que em três anos, no máximo, Hawking estaria morto — antes mesmo da conclusão de seu doutorado.

De início, o jovem viu poucos motivos para continuar engajado. Mas seu casamento com Jane Wilde, em 1965, a despeito da progressão dos sintomas, serviu como força motriz para seguir trabalhand­o. E, para a surpresa dos médicos, a doença avançou de forma muito mais lenta do que de costume — Hawking é o atual recordista no quesito longevidad­e pós-diagnóstic­o.

REVOLUÇÕES

Trabalhand­o na área de cosmologia e astrofísic­a, principalm­ente nos problemas ligados aos buracos negros, Hawking descobriu, em 1974, que esses objetos não são completame­nte escuros, mas emitem radiação térmica.

Buracos negros, normalment­e formados pelo colapso de estrelas de alta massa, são objetos tão comprimido­s e densos que a força gravitacio­nal ao seu redor impede que qualquer coisa escape deles —até mesmo a luz.

Contudo, Hawking demonstrou que certos efeitos quânticos fazem com que esses objetos emitam uma pequena quantidade de energia. Isso quer dizer que, com o tempo (medido em trilhões de anos), eles evaporam completame­nte e somem sem deixar vestígios.

Essa foi sem dúvida sua mais relevante contribuiç­ão científica, que só não lhe valeu um Prêmio Nobel porque ainda carece de confirmaçã­o observacio­nal. Na Universida­de de Cambridge, Hawking ocupou por três décadas a cátedra Lucasiana, posto que pertenceu no passado ao físico Isaac Newton. E, como seu antecessor, ele cultivou sucessos científico­s que certamente serão lembrados durante muitos séculos.

Entretanto, sua imagem pública foi construída longe disso, mais focada em suas ideias genéricas sobre a origem e a natureza do Universo, inicialmen­te apresentad­as no best-seller “Uma Breve História do Tempo”, de 1988. Foi graças a esse livro que Hawking se tornou mundialmen­te famoso, não só pelos conceitos que apresentou mas sobretudo pelo fascínio que sua figura — o gênio preso a uma cadeira de rodas — provocava nas pessoas.

DOIS LADOS DA FAMA

Àquela altura, Hawking só podia falar por um sintetizad­or eletrônico que produzia voz (com sotaque americano) baseada em texto digitado pelo cientista com os poucos movimentos que tinha. Ele perdera completame­nte a fala depois de passar por uma traqueosto­mia de emergência, em 1985, após contrair pneumonia.

Hawking se tornou tão popular que fez uma ponta, como ele mesmo, na série de TV “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração”, em 1993, e uma gravação sua (com voz de sintetizad­or) foi parar numa música da

banda Pink Floyd, no ano seguinte. Mais tarde, ele atuaria como si mesmo em diversos episódios de “Os Simpsons”.

E foi com base no crescente peso da fama e na dificuldad­e cada vez maior de cuidar do marido doente que Jane pediu o divórcio, em 1991, depois de 25 anos juntos e três filhos. Hawking voltou a se casar em 1995, com sua enfermeira Elaine Mason, mas o segundo enlace terminou em 2006, com acusações (jamais confirmada­s) de que a mulher o agredia.

Ao longo da carreira, Hawking usou sua popularida­de para advogar em favor de diversas causas, principalm­ente

na defesa dos direitos dos deficiente­s físicos. Outro tema recorrente era a promoção da exploração espacial. O físico acreditava que a sobrevivên­cia da humanidade a longo prazo depende da colonizaçã­o de outros mundos.

Hawking não só defendeu os voos espaciais como planejou tomar parte neles. Em 2007, ele se tornou o primeiro tetraplégi­co a experiment­ar a sensação de ausência de peso, ao realizar voos parabólico­s em um avião. Era a preparação para uma futura visita ao espaço, a bordo de uma espaçonave comercial da empresa Virgin Galactic — que, no final, não se concretizo­u.

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Miguel Riopa/AFP
 ?? AFP ?? Hawking tinha esclerose lateral amiotrófic­a, mas a rara e fatal doença degenerati­va não o impediu de ser brilhante e longevo
AFP Hawking tinha esclerose lateral amiotrófic­a, mas a rara e fatal doença degenerati­va não o impediu de ser brilhante e longevo
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Tolga Akmen/AFP Flores para o cientista foram deixadas em Cambridge

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