Temer contra o STF
O que parecia impossível está acontecendo, o presidente Michel Temer peitar o STF. E valeu-se do ato temerário do ministro Luis Roberto Barroso, alterando o decreto de indulto natalino para um recurso, gesto que não adotou na quebra de sigilo bancário no caso do decreto que beneficiou empresas portuárias e no do jantar da Odebrecht, quando vice, que cedeu R$ 10 mi ao PMDB. Ocorre que a esmagadora maioria das decisões do Supremo são monocráticas, isso é, adotadas por um ministro sem audiência do colegiado e confia-se que a maioria discordará da mexida em um ato de prerrogativa exclusiva presidencial. Não esquecer que o da nomeação da ministra do Trabalho também era.
Há cautelas para evitar o confronto direto, mas a linha auxiliar, representada pelo também temerário Carlos Marun, ministro da Secretaria do Governo, cogita de uma ação de terrorismo psicológico na proposição do impeachment de Barroso no Senado. A medida, ainda que sem o aval presidencial, se for proposta, a ordem é deixar fluir. Marun perdeu a guerra numa causa santa, a defesa de Eduardo Cunha, porém persiste com a mesma bossa.
Reações de Temer nos outros casos limitou-se à tertúlia acadêmica diante de Raquel Dodge, Procuradora da República, cheia de pareceres de especialistas, defendendo o ponto de vista de que não pode responder por atos estranhos ao exercício presidencial, tese que seu antecessor respeitou. A visita à presidente do STF, Carmen Lúcia, se insere entre atos presidenciais para mostrar disposição de luta dentro das regras de cordialidade, posto que extravase tais limites, mas repercutem bem na base aliada, ainda mais agora com o enquadramento do senador Romero Jucá, que repetiu o mantra de que se está, no Brasil, criminalizando a política. O fato é que é o primeiro a responder ação penal no STF derivada de delações premiadas, embora haja vários outros procedimentos em que é referido.
O próprio Lula deu um apoio oblíquo a Temer ao embarcar na teoria conspiratória de que a Globo, os Estados Unidos e a CIA, de olho no pré-sal, querem dar o golpe em Temer, que de golpista se transforma em golpeado, como o Gregório Samsa de Kafka que despertou barata.