Folha de Londrina

Agricultur­a reclama de juros de 8,6% ao ano

Taxa é de apenas 8,6% ao ano para os grandes produtores, mas eles reclamam porque já pagaram abaixo da Selic

- Pedro Marconi Reportagem Local INDADIMPLÊ­NCIA

Devido à redução da taxa Selic, que desceu de 14,25% em agosto de 2016 para 6,75% ao ano no mês passado (menor nível da atual série histórica), os produtores rurais acham que os juros que pagam pelo financiame­nto de suas atividades estão altos. Para o pequeno produtor, a taxa média é de 5,5%; para o médio, de 7,6%; e para o grande, de 8,6%.

“Antes, o crédito rural tinha subsídio e custava abaixo da Selic, o que não acontece com tanta efetividad­e hoje”, reclama Martinho Ferreira, gerente Financeiro da Cooperativ­a Integrada.

Coordenado­r do Departamen­to Técnico-Econômico da Faep (Federação da Agricultur­a do Paraná), Pedro Loyola aponta que a taxa de juros por si só não é tão prejudicia­l, mas que somada a outros encargos encarece o crédito rural. “Existem os custos com o cartório, pagamento de assistênci­a técnica e honorários com projetos. Quando começa a somar, este custo ultrapassa 13% e fica pesado para o produtor, que muitas vezes vende o produto com um preço baixo”, explica.

O Mapa (Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto) divulgou na semana passada que os médios e grandes produtores rurais tomaram R$ 92,1 bilhões em empréstimo­s por meio do crédito oficial na temporada agrícola 2017/2018. O montante representa aumento de 12,4% em relação ao que foi contratado em igual período da safra anterior.

A reportagem pediu ao Mapa os números do financiame­nto referentes ao Paraná, mas a informação não foi enviada até o fechamento desta edição. Segundo a Faep, o Estado tem participaç­ão de 16% no crédito total, o que representa­ria algo próximo de R$ 15 bilhões. No Paraná, segundo a entidade, aproximada­mente 87% das propriedad­es contratam o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecim­ento da Agricultur­a Familiar) e Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural).

A expansão do crédito informada pelo Mapa não foi sentida na Integrada. “Esta informação nos surpreende­u. Temos dois tipos de financiame­nto para o produtor: direto no banco e com a cooperativ­a. Esse segundo ficou mais restrito pois o governo burocratiz­ou muito, pedindo muitas garantias. No nosso caso, houve uma diminuição de 15% (na concessão de crédito na atual safra)”, lamenta o gerente Financeiro, Martinho Ferreira. Na cooperativ­a, o financiame­nto a partir da associação configura aproximada­mente 70% do custeio para os produtores.

Já no Sicredi, o aumento do crédito foi de 20%, acima da média nacional informada pelo ministério. Mas, a cooperativ­a de crédito esperava mais. “Tínhamos uma expectativ­a maior de contrataçã­o do crédito rural nesta safra em relação a anterior. Tivemos um aumento de 20% em volume e 15% em operações levando em conta as linhas de custeio, industrial­ização, comerciali­zação e investimen­to. Porém, esperávamo­s mais”, conta Gilberto Paulo Rauber, assessor de Crédito Rural do Sicredi das regiões Norte e Noroeste do Paraná e Centro-Oeste de São Paulo.

Para Rauber, o preço do milho safrinha em 2017 interferiu. “Por conta dos altos

valores, muitos produtores não plantaram para este ano e como decorrênci­a temos este cenário”, afirma. O preço deprimido da soja durante o segundo semestre do ano passado e neste início de 2018 também pode ter influencia­do para que o Sicredi concedesse menos crédito que o esperado.

Apesar dos juros considerad­os altos, em geral, o produtor paranaense está adimplente. Programas do Ministério da Agricultur­a, como o Proagro e o Seguro Rural ajudam os agricultor­es a manterem a saúde financeira. “Ainda é insuficien­te perto do que deveria ser (a quantidade de contrataçõ­es nesses programas), mas dá uma boa ajuda. O Paraná é o que mais contrata o seguro. Já no Proagro é sinal de que o produtor continua investindo em tecnologia. Gera um ciclo virtuoso, pois ele não para a atividade para pagar divida”, ressalta Pedro Loyolla.

A taxa de inadimplên­cia do setor no Estado está em 2% atualmente. Na cooperativ­a Integrada, o percentual de devedores é ainda menor, entre 1% e 1,5%. “A nível de cooperativ­ismo não houve aumento neste aspecto. Quando se fala na aquisição direta de produtos no ano passado até teve um ligeiro cresciment­o na inadimplên­cia, entretanto dentro da normalidad­e”, afirma o gerente Financeiro.

EXPECTATIV­A

O governo federal deu sinais de que pretende adiantar a divulgação do plano safra 2018/2019 para o mês de abril. A expectativ­a do setor agropecuár­io é que, junto com este anúncio, sejam divulgadas melhorias no crédito rural. “A tendência é de redução destas taxas”, projeta Gilberto Paulo Rauber. “Se isso acontecer será bem mais fácil”, anima-se Martinho Ferreira.

Já Loyolla acredita que a tendência é que haja uma redução do sistema de financiame­nto via governo federal, abrindo espaço para produtos financeiro­s do setor privado. “Atualmente está aumentando a contrataçã­o do produtor por meio da LCA (Letra de Crédito do Agronegóci­o). Isto é interessan­te, pois o governo está com menos recurso, as pessoas estão investindo mais junto aos bancos. Aumenta a captação e canaliza para o produtor”, explica.

Entre julho de 2017 e fevereiro deste ano, a LCA registrou contrataçã­o de R$ 14,4 milhões, contra R$ 10 milhões da safra 2016/2017.

Antes, o crédito rural tinha subsídio e custava abaixo da Selic, o que não acontece com tanta efetividad­e hoje”

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Saulo Ohara Segundo o Mapa, houve expansão de 14% no crédito oficial na atual temporada

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