Folha de Londrina

Óculos de John Lennon

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Era domingo e na segunda-feira tinha prova de semiologia. Vou confessar aqui a vocês: nunca entendi patavina de semiologia. Teoria de comunicaçã­o era, sempre foi e continuará sendo húngaro pra mim. A única coisa que eu consigo me lembrar de Saussure (pronuncia-se Sossur, com sotaque londrinens­e) é que o signo é um negócio composto por significan­te e significad­o, algo assim como o corpo e a alma da palavra. Mas na época — estamos falando em 1990 —, eu nem acreditava na existência da alma...

O fato é que tinha prova de semiologia e eu não sabia nada. Nem havia aberto o livro do Saussure (cumé que era o título mesmo?). Na minha cabeceira, havia um bom livro do Henry Miller e talvez alguma porcaria do Trotsky. Nem sombra do Saussure.

Na sexta-feira, França havia combinado de vir domingo à República para estudarmos semiologia juntos. França era meu grande amigo e colega de turma; ao contrário de mim, muito inteligent­e, mas igualmente avesso à semiologia. Ele morava longe, na zona sul; a República, como vocês sete sabem, ficava na primeira pracinha da Rua Humaitá.

Por ser um domingo, havia poucos ônibus circulando. Chegavam a demorar mais de uma hora para chegar ao ponto. França teve que pegar o ônibus lá da zona sul até o terminal urbano (uma hora); depois, do terminal até a República (mais uma hora). E tudo isso num calor dos infernos.

Naquele domingo eu acordei por volta das dez horas. Fiquei folheando meu Henry Miller, sem dar a mínima pro Seu Sossur. Lá pelo meio-dia e meia — quando eu estava num daqueles monólogos delirantes de “Nexus” —, Turco Baixaria descobriu que havia sobrado uma garrafa de cachaça do último churrasco. Achei que tomar um golinho não ia atrapalhar em

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