A CIDADE FUTURA
Tentativa de invasão na Câmara Municipal foi contida com bombas de efeito moral, cassetetes e balas de borracha
É incomum na ficção mercadológica a história protagonizada pelos vencidos.
São Paulo - Um protesto de servidores municipais, principalmente professores, na Câmara Municipal de São Paulo, terminou em confronto com a GCM (Guarda Civil Metropolitana) e manifestantes feridos, na tarde desta quarta-feira (14).
O confronto ocorreu durante a tentativa de aprovação de um projeto de lei proposto pela gestão João Doria (PSDB) que altera o programa de previdência dos servidores municipais. Houve tentativa de invasão da Câmara e bombas de efeito moral e pedras foram lançadas.
Composto majoritariamente por professores sindicalistas, o grupo de servidores municipais realizavam desde o início da manhã um ato contra a mudança nas regras. Professores chegaram a acampar em frente ao prédio da Câmara na madrugada.
Segundo o sindicato dos professores municipais, cerca de 15 mil pessoas compareceram à manifestação nesta quarta.
Após um tumulto no início da tarde, a GCM fechou a en- trada da Câmara. Manifestantes então cercaram o prédio e tentaram quebrar os vidros do local.
Enquanto isso, no interior da Câmara manifestantes tentavam obstruir a votação do projeto na CCJ (Comissão da Constituição e Justiça), que acontecia no Salão Nobre da Casa.
O líder do governo na Câmara, o vereador João Jorge (PSDB), disse que manifestantes chegaram a atiraram uma garrafa de água e um sapato contra ele.
Houve empurra-empurra entre professores e agentes da GCM. Os guardas, que estavam com escudos, desferiram golpes de cassetete contra os servidores. Após os os golpes, uma mulher teve de ser amparada. Ela estava com o rosto coberto de sangue.
TRUCULÊNCIA
Membro da direção do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo, João Gabriel Buonavita, 32, queixouse de truculência de guardas e policiais. “O primeiro conflito começou dentro da CCJ, quando a guarda agiu com truculência e uma funcionária saiu ferida. Na frente da Câmara, a GCM e a tropa de choque jogaram bombas e assustaram o pessoal que estava com familiares”, disse.
Buonavita relata ainda ter visto pessoas passando devido o uso de bombas de efeito moral e um servidor sendo atingido por uma bala de borracha.
O vereador Cláudio Fonseca (PPS) condenou a atuação da GCM e avaliou o efeito político do conflito sob os planos de Doria. “Não sei para que serve isso, se não for para dar um exemplo de intolerância por parte daqueles que querem aprovar a qualquer custo um projeto que retira direitos dos trabalhadores. É como se tivessem que ficar calados mesmo que tirem parte do salário deles”, disse.
Já o vereador João Jorge disse lamentar que o conflito tenha tomado tamanha proporção. “A segurança pública tem que fazer valer seu trabalho (...) senão apenas um lado vai chegando, agredindo, e as pessoas poderiam eventualmente sofrer alguma agressão física”, disse.
BALAS DE BORRACHA
Professor de carreira e funcionário do gabinete da vereadora Sâmia Bomfim (Psol), Bruno Magalhães, 33, diz ter sido atingido por dois tiros de bala de borracha. “Estávamos na área externa da Câmara e a GCM começou a tentar retirar os professores. Nós sentamos e eles começaram a atirar bombas de efeito moral e balas de borracha. Comecei a ajudar os professores mais idosos a sair e fui atingido por dois disparos de bala de borracha: uma no pescoço e outra na parte de trás da cabeça”, disse. Magalhães dirigiu-se a AMA (Assistência Médica Ambulatorial) na Sé e teve que tomar sete pontos na cabeça.
O defensor Carlos Weis informou que a Defensoria Pública vai pedir imagens e informações à prefeitura sobre a ação desta quarta, além de acionar o Município pedindo indenização para os feridos.
Após a confusão, os vereadores seguiram para o plenário, onde concluíram a votação, que agora segue para outras duas comissões.
O texto da reforma, em trâmite na Câmara, prevê a elevação da contribuição previdenciária de 11% para 14%, além da instituição de contribuição suplementar vinculada ao salário do servidor. Assim, o desconto poderá chegar a 18,2%, segundo a prefeitura. A prefeitura defende que, sem a alteração, a sustentabilidade da previdência municipal é inviável.
Nesta quinta (15), haverá audiência pública na Câmara para discutir o projeto.
Não sei para que serve isso, senãoforparadarum exemplo de intolerância”