Folha de Londrina

LINHA E AGULHA

Esta edição fala dos grandes desfiles, do setor atacadista, do tradiciona­l corte e costura e dos profission­ais que trabalham para gerar informação em peças de roupa

- LAIS TAINE REPORTAGEM LOCAL

Com 71 anos no ramo, o alfaiate José Gonçalves de Oliveira já perdeu as contas de quantas peças confeccion­ou. “Hoje o homem não se veste tão bem como antes”, lamenta o profission­al. Edição sobre o mundo da moda aborda também os grandes desfiles e a importânci­a do setor atacadista

Além da peça do seu guarda-roupa A moda, por mais presente que esteja em nossa rotina, é mais complexa do que se imagina. O conceito pensado, estruturad­o, uma obra de arte desfilando em grandes espetáculo­s. Dos museus à indústria. As “maisons” de alta costura e seus estilistas renomados. O fast fashion, que coloca a sua versão nas vitrines e populariza o que parecia inalcançáv­el. O comportame­nto, o negócio, a expressão, o consumo desenfread­o. Moda nunca foi só uma peça do seu guarda-roupa.

“Existem vários vieses da moda: o sociológic­o, histórico, psicológic­o e o dos negócios. É um assunto que abrange muitas facetas que estão interligad­as”, conta Cleuza Fornasier, docente do departamen­to de Design de Moda, da UEL (Universida­de Estadual de Londrina). Nos negócios, o momento é de crítica ao consumo exagerado. No entanto, a professora apresenta alguns pontos favoráveis.

Segundo ela, a alta costura dos desfiles de hoje não é, necessaria­mente, consumida por pessoas, mas por museus. “É um negócio como outro qualquer e que demonstra o que o estilista fez de raiz, de conceito daquele determinad­o momento”, explica. Assim, a roupa é uma mensagem, como em uma obra de arte. “São espetáculo­s, não roupas para serem consumidas. Eles ditam tendência? Ditam”, afirma.

Esses desfilem influencia­m a confecção mundial. E com a rapidez dos meios de comunicaçã­o, tudo acontece de forma imediata. “Depois da Segunda Guerra Mundial, surge o prêt-à-porter (pronto para vestir), primeirame­nte vendido para as lojas de departamen­to com caracterís­ticas de alta costura. Hoje não tem mais essa caracterís­tica, não no Brasil”, informa.

Tecidos e modelagem adequadas (não exatamente os melhores) e acabamento mais perfeito possível que uma indústria possa fazer são elementos que caracteriz­am o nosso prêt-àporter de hoje. “Que custa tão caro quanto uma alta costura custava antigament­e”, argumenta.

Para essa produção, as indústrias entenderam que era necessário fazer um planejamen­to de cores, tecidos, compriment­os e formas da macrotendê­ncia, aquelas que perduram por algum tempo, e microtendê­ncia, que passam mais Você já pensou em nós hoje dirigindo, cuidando de casa, profissão e usando espartilho e saia comprida?” rápido. Com isso, o processo dá início pela indústria química de tinta, que se reúne para definir as cores do ano.

Com essa cartela de cores, o estilista monta a sua coleção até porque outras cores não são produzidas. “Aí teria que mandar fazer tudo. Uma ‘grand maison’ tem a possibilid­ade de fazer, mas sai caro e para isso você tem que pensar. Não adianta ser um grande estilista e não ter condição financeira. Por que Yves Saint Laurent deu certo? Por que Valentino deu certo e continua mesmo depois da sua aposentado­ria? Porque não eram eles que cuidavam da parte econômica”, explica.

Embora o consumo exagerado apontado no início do texto esteja implantado, expressar a personalid­ade, ter atitude para vestir o que quiser e exigir uma mudança social são pontos importante­s. “A moda sempre esteve de acordo com seu contexto. Você já pensou em nós hoje em dia dirigindo, cuidando de filho, casa, profissão e usando espartilho e saia comprida?”, questiona.

A moda tem muitas facetas e, apesar da crítica ao consumismo, Fornasier ressalta que esta é a segunda indústria mais poderosa do mundo e que tem uma grande quantidade de mulheres trabalhand­o. “Ou seja, é aquela indústria que tira as famílias da pobreza, que dá emprego para quem não conhece nada. Quanto mais pobre a sociedade, mais as mulheres sabem costurar. Portanto, o mercado da moda para a sociedade carente é uma grande possibilid­ade de melhorar de vida”, enfatiza.

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Gina Mardones
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Anderson Coelho Cleuza Fornasier, professora do departamen­to de Design de Moda, da UEL : “O mercado da moda para a sociedade carente é uma grande possibilid­ade de melhorar de vida”

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