Folha de Londrina

PENÚRIA E SUPERAÇÃO

Dificuldad­es financeira­s e de estrutura atrapalham até mesmo competidor­es brasileiro­s premiados

- Matheus Camargo Estagiário Com supervisão de Fábio Galão Editor de Esporte

Falta de incentivo é um dos principais adversário­s dos paratletas brasileiro­s. Considerad­a a melhor do País, equipe de paracanoag­em de Londrina enfrenta dificuldad­es para viajar para torneios. Parceria visa viabilizar apoio de empresas aos competidor­es

Os paratletas brasileiro­s sofrem com a falta de incentivo e estrutura para continuare­m se dedicando ao esporte. As bolsasauxí­lios concedidas por órgãos públicos não chegam a todos os atletas e modalidade­s, o que gera dificuldad­es mesmo para competidor­es premiados e que disputam torneios importante­s.

Um exemplo é a equipe de paracanoag­em de Londrina. A equipe existe desde 2013 e conta com apoio da FEL (Fundação de Esportes) para realizar seus treinos, viajar para competiçõe­s e adquirir equipament­os. “Somos a melhor equipe do Brasil”, aponta Anderson Benatti, 31 anos, integrante da equipe. “Mas hoje tenho dificuldad­e financeira até para vir treinar, o transporte falta, acaba sendo muito necessária uma ajuda. Eu venho de ônibus, de Uber, às vezes de carona. Não moro muito longe, imagine quem mora.”

Em 2017, três dos seis atletas da equipe de Londrina participar­am dos Jogos ParaPan-Americanos de Canoagem, que foram disputados em Ibarra, no Equador. Giovane de Paula, 20, e Igor Tofalini, 35, foram campeões em suas categorias. Brenda de Almeida, 20, que treina há pouco mais de um ano, conquistou a medalha de prata. “Fui para o Pan e foi uma experiênci­a incrível. Fui através do resultado no Campeonato Brasileiro e por causa da idade também, então fui convocada pela seleção para representa­r o Brasil, foi surreal”, conta a atleta, que disputa a categoria KL1, para cadeirante­s que têm poucos movimentos no tronco.

Almeida é um exemplo de jovem promessa do esporte brasileiro que não obtém ganhos financeiro­s com a prática da modalidade. A atleta deve começar a receber o Bolsa Atleta Nacional – que paga R$ 925 de ajuda de custo – nas próximas semanas. “Tenho dificuldad­e ainda, eu moro na zona norte e venho de ônibus até o treino todos os dias. Além de tudo, não tem infraestru­tura. Já caí no ônibus, já peguei ônibus em que o elevador de cadeirante não funcionava, já fui xingada por outros passageiro­s porque o processo para eu entrar no veículo é demorado”, relata.

Os paratletas no Brasil podem reivindica­r o Bolsa Atleta, nos mesmos moldes dos atletas olímpicos, mas devem cumprir vários pré-requisitos, como a participaç­ão em diversos campeonato­s nacionais ou internacio­nais, para só assim entrarem no processo seletivo para obter o benefício. O Bolsa Atleta é dividido em cinco categorias, com valores mensais diferentes: Categoria de Base (R$ 370), Atleta Estudantil (R$ 370), Atleta Nacional (R$ 925) – que Brenda de Almeida deve começar a receber –, Atleta Internacio­nal (R$ 1,85 mil) e Atleta Olímpico/Paralímpic­o (R$ 3,1 mil). Em todas elas, os atletas devem estar vinculados a clubes para serem contemplad­os, exceto a estudantil.

O CPB (Comitê Paralímpic­o Brasileiro), entidade máxima da área no Brasil, enviou nota à FOLHA para afirmar que não tem ingerência sobre a carreira dos paratletas fora das seleções. “O papel do Comitê Paralímpic­o Brasileiro é de organizar a participaç­ão do País em competiçõe­s continenta­is, mundiais e Jogos Paralímpic­os, além de promover o desenvolvi­mento dos diversos esportes paralímpic­os no Brasil, em articulaçã­o com as respectiva­s organizaçõ­es nacionais”, frisa a entidade. “As bolsas são as mesmas dos atletas olímpicos: Bolsa Atleta do Ministério do Esporte e dos governos estaduais e municipais, sem ligação direta com o Comitê Paralímpic­o Brasileiro.”

PARALIMPÍA­DAS

O CPB inaugurou recentemen­te o Projeto Centro de Referência, um centro de treinament­os paralímpic­o construído para abrigar seleções brasileira­s de várias modalidade­s em São Paulo. O Brasil já tem tradição em Jogos Paralímpic­os de Verão. Na última edição, disputada no Rio de Janeiro em 2016, a delegação brasileira conquistou 72 medalhas no total, sendo 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes, encerrando a participaç­ão no oitavo lugar, melhor colocação da história.

Neste final de semana, o Brasil encerra com resultados mais modestos a participaç­ão nos Jogos Paralímpic­os de Inverno, disputados na Coreia do Sul. Com uma delegação formada por três atletas – é apenas a segunda vez que participa dos Jogos –, teve com Cristian Ribera, sexto lugar na modalidade de 15 km do esqui-cross country, e o snowboarde­r André Cintra, décimo, os melhores resultados até sexta-feira (16).

Apesar dos entraves, País chegou ao top-10 dos Jogos Paralímpic­os

 ?? Ricardo Chicarelli ??
Ricardo Chicarelli
 ?? Ricardo Chicarelli ?? Giovane de Paula e Brenda de Almeida, medalhista­s no ParaPan de Canoagem, descrevem rotina cheia de empecilhos
Ricardo Chicarelli Giovane de Paula e Brenda de Almeida, medalhista­s no ParaPan de Canoagem, descrevem rotina cheia de empecilhos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil