Folha de Londrina

Primado da violência

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Se queres a paz, prepara-te para a guerra , “se vis pace para bellum”, era o bordão da paz romana. Pouco depois da experiênci­a carioca da tal da polícia protetora, e que era apenas essencialm­ente polícia, o Paraná a decalcou com as Unidades do Paraná Seguro, fracasso lá e reprisado aqui, como se percebe na celebração dos seus cinco anos na reportagem, ontem, desta “Folha”, de José Marcos Lopes e Celso Felizardo.

Essa ênfase na violência normalment­e oferece terapias que subestimam a carência social e a ausência de Estado nesses núcleos. O martírio da vereadora Marielle Franco, anteontem, expressou-se como a consolidaç­ão desse fracasso em dimensões mundiais e ninguém esquece do aparato bélico das forças armadas empregado na tal polícia pacificado­ra tanto como show e finalidade operadora, agora completada com a intervençã­o.

Em Curitiba houve queda da violência na relação por cem mil habitantes, mas na Cidade Industrial, a despeito da instalação de cinco unidades, ela se manteve como o maior centro de violência da capital.

Se ao longo desse tempo testemunha­mos um fracasso, por não suprir a ação do Estado, por vezes atendida ao seu estilo pelo tráfico, vimos nesses quatro anos de Lava Jato, em que Curitiba se faz uma República na ironia de Lula e de criminalis­tas do panteão da glória, um feito civilizado­r que abre perspectiv­as de o Brasil fazer-se sério. O pior é que a despeito da cruzada punitiva e desmistifi­cadora das nossas práticas políticas, faz-se opção no Brasil não por esse avanço, repetindo-se os ciclos repressivo­s com a intervençã­o federal no Rio e a criação do Ministério da Segurança, cujas primeiras ações não sustentam as esperanças geradas e que encontram na execução da vereadora Marielle Franco uma evidência de que, por muito tempo, seguiremos andando em areia movediça.

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