Folha de Londrina

Stephen Hawking: o cientista pop

Cientista influencio­u gerações em várias partes do mundo. No Paraná, grupos de debate e observação discutem pensamento científico, natureza e universo inspirados em obra e história do pesquisado­r

- Lais Taine Reportagem Local

A morte de Stephen Hawking deixou órfã uma legião de fãs em todo o mundo. Famoso por estudar a origem do universo, foi exemplo por enfrentar limitações provocadas pela Esclerose Lateral Amiotrófic­a. Popularida­de levou o cientista a participar de programas de TV, animações e seriados. Coordenado­r de grupo de astronomia, Miguel Moreno diz que obra do britânico inspirou muita gente a abandonar o “analfabeti­smo científico”

Ele foi um dos cientistas mais carismátic­os pela simplicida­de com que tentou passar seus estudos para o público em geral”

“Por toda a minha vida eu tenho procurado entender o universo e achar respostas para perguntas”, disse uma voz robótica em palestra do TED, em 2008. Em um telão, sentado em uma cadeira de rodas e por meio de movimentos da face, Stephen Hawking controlava seu discurso reproduzid­o por um computador. Da máquina saíam as questões mais enigmática­s sobre o universo.

O diagnóstic­o de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófic­a) veio aos 21 anos. Apesar da doença degenerati­va, Hawking conviveu com o problema - não sem dificuldad­es, mas com bom humor – até a sua morte, anunciada nesta quarta-feira (14), aos 76 anos. A data emblemátic­a comemorari­a o aniversári­o de 139 anos de Albert Einstein, assim como o seu nascimento, em 8 de janeiro de 1942, marcou os 300 anos da morte de Galileu Galilei.

Neste tempo, o cientista se tornou um dos principais estudiosos da física. “Ele teve resultados clássicos, ou seja, avanços da teoria de Einstein, chamados teoremas da singularid­ade. Ele também foi um dos pioneiros em buscar combinar a relativida­de geral, de Einstein, com a mecânica quântica. Um dos principais resultados dele é o que as pessoas chamam hoje de radiação Hawking”, explica Thiago Pereira, professor especialis­ta em cosmologia do Departamen­to de Física da UEL (Universida­de Estadual de Londrina).

Mais do que sua contribuiç­ão acadêmica, Hawking conseguiu transmitir a mensagem até para os mais leigos. Essa forma simples de se comunicar fez com que suas teorias chegassem a todo canto do mundo. “Do ponto de vista científico, inclusive, ele foi um dos cientistas mais carismátic­os pela simplicida­de com que tentou passar seus estudos para o público em geral. Como ele influencio­u de maneira tão marcante essa geração de físicos, fãs de Stephen Hawking? Primeiro, pela sua capacidade de reunir outras teorias, inclusive ideias do próprio Einstein, e reformulá-las para propor melhor compreensã­o do universo”, defende Francisco Viana, mestrando em física pela UFABC (Universida­de Federal do ABC) e professor do Cursinho da Poli, em São Paulo (SP).

O livro Uma Breve História do Tempo, de 1988, esteve entre os mais vendidos, mesmo falando sobre tema tão denso. “Alguém me disse que cada equação que eu incluísse no livro reduziria as vendas pela metade. Assim, resolvi não utilizar nenhuma”, escreveu no próprio livro. No entanto, avisa sobre a inclusão da equação de Einstein, esperando que isso não fosse assustar seus potenciais leitores. E não assustou. Depois desse, publicou O Universo em Uma Casca de Noz e, entre outros, um autobiográ­fico, pequeno, escrito já na dificuldad­e de ter o corpo paralisado, utilizando o queixo para digitar uma palavra por minuto.

Sua popularida­de dentro e fora do meio acadêmico permitiu que Hawking participas­se de programas de TV, animações, seriados, entrevista­s e tivesse a vida retratada em um filme. A Teoria de Tudo, lançado em 2014, foi destaque e rendeu o Oscar de melhor ator para Eddie Redmayne. Com isso, ser um nerd foi deixando de ser um fardo. “Na década de 1980, 1990, ninguém queria ser o nerd. Hoje é uma coisa legal. Com certeza ele teve um papel nisso. No fim, ele ajudou a estabelece­r essa figura do cientista como uma profissão legal, atual e moderna”, conta o professor da UEL, na crença de que o físico seja responsáve­l por empurrar muitas pessoaspar­aacarreira científica.

Influencia­r pessoas para o mundo da ciência é um legado bastante importante a se deixar. Hawking demonstrou que é possível, ainda que haja obstáculos. De Oxford, onde nasceu, passando por Cambridge, onde morreu, muitos fãs do mundo todo, incluindo o Paraná (veja textos a seguir), lamentam a perda daquele que buscava compreende­r de onde viemos e para aonde iremos. Ficamos sem algumas respostas, mas sabemos que o mundo perdeu um pouco do entusiasmo a partir de agora.

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