Folha de Londrina

Munição liga caso Marielle a chacina

As balas pertencem a um lote comprado pela Polícia Federal em 2006 e encontrado em 2015 em Barueri e Osasco

- Sérgio Rangel Lucas Vetorazzo Folhapress

Rio de Janeiro - A munição que matou a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) na última quarta-feira (14) foi comprada pela Polícia Federal em dezembro 2006. A informação foi divulgada pelo RJ1, da TV Globo. O lote é o mesmo encontrado em agosto de 2015 em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, em parte das balas usadas naquela que é considerad­a a maior chacina do estado de São Paulo, com 17 mortos. À época, a investigaç­ão da polícia paulista descobriu que parte das cápsulas encontrada­s no local do crime pertencia ao lote UZZ-18, comprado pela PF de uma empresa privada. Neste caso de São Paulo, três policiais militares e um guarda civil foram condenados pela chacina.

Não é possível dizer, porém, que o grupo da chacina em São Paulo tenha relação com quem matou a vereadora carioca e seu motorista, Anderson Pedro Gomes, 39. Nem é possível dizer que agentes de segurança tenham atuado no crime do Rio. Desvios de munição comprada por órgãos oficiais são co- muns, assim como o reaproveit­amento de cápsulas de projéteis já disparados.

No caso do assassinat­o de Marielle, ainda segundo a TV Globo, a munição não tinha sinais de modificaçõ­es. Marielle morreu com tiros de pistola calibre 9 milímetros, o mesmo modelo de arma usado por agentes de segurança.

Em nota conjunta, a Polícia Federal e a Polícia Civil do Rio não confirmara­m a informação específica, mas afirmaram que estão apurando a denúncia. A PF ajuda nas investigaç­ões, embora a Civil seja a principal responsáve­l pelo caso. SUSPEITO A placa de um carro suspeito de levar criminosos envolvidos no assassinat­o foi identifica­da pela polícia do Rio. De acordo com os investigad­ores, imagens de câmeras de segurança da região da Lapa

registrara­m dois homens parados dentro de um veículo por duas horas nas cercanias da Casa das Pretas, na rua dos Inválidos. O local foi o último em que a vereadora passou antes de ser morta . Segundo as imagens, os suspeitos falavam no celular e seguiram o carro de Marielle após o debate no sobrado da Lapa. A placa mostra que o carro é de Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense.

A polícia tenta identifica­r os interlocut­ores da dupla nas conversas telefônica­s, e dados das operadoras estão sendo coletados. E trabalha agora com a hipótese de que mais de um carro participou da ação que terminou com a morte da vereadora.

PREMEDITAD­O

A maior parte dos disparos foi efetuada do lado direito do veículo, na parte do banco de trás, onde estava a vereadora. O motorista, Anderson Pedro Gomes, foi atingido por três tiros nas costas, e a assessora sobreviveu sem ferimentos graves. O carro de Marielle tinha vidros escuros. Os quatro tiros na cabeça da vereadora reforçam a tese de assassinat­o premeditad­o. O Disque Denúncia já recebeu pelo menos dez denúncias sobre o caso.

Um policial civil experiente que conversou com a reportagem na condição de não ter seu nome divulgado afirmou que é raro que o atirador consiga acertar quatros tiros na cabeça da vítima. Isso mostraria que o assassino tinha experiênci­a nesse tipo de crime. Quando a vítima não está sob jugo do agressor, costuma haver um ou dois tiros na cabeça, e o restante no corpo. Segundo esse policial, requer certa técnica atirar em um curto espaço de tempo quatro vezes num mesmo alvo, por causa do recuo da arma durante o disparo.

A placa de um carro suspeito de levar criminosos foi identifica­da pela polícia do Rio

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