A real contribuição do campo
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os resultados da economia brasileira em 2017, ano que marcou o fim da recessão e a retomada do crescimento. Os recordes da produção agropecuária, registrados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), alavancaram o desempenho do País com um avanço 13% maior que o registrado em 2016. O campo contribuiu com 60% do crescimento na economia, enquanto os serviços cresceram 0,3% e a indústria permaneceu com os mesmos índices do ano anterior. Além do maior crescimento registrado desde 1996, os agricultores garantiram a oferta de alimentos à população, o que permitiu reduzir a inflação. Ao mesmo tempo, aumentaram as exportações, o que colaborou para o maior saldo comercial da história do País, de US$ 67 bilhões.
As lavouras e a pecuária provocam uma reação em cadeia e influenciam todo um sistema de negócios e indústrias, envolvendo fornecedores de insumos e serviços, o sistema de armazenagem e transporte, distribuição, enfim, um complexo de operações, conhecido como agronegócio, que tem grande impacto na economia. Impossível não considerar os imensos efeitos do campo.
E convém destacar que essas atividades, tão importantes para o dia a dia das pessoas, têm impacto em todo o território. Lubrificam o emprego no campo e nas cidades em todos os rincões do Brasil. Ainda assim muitos analisam a agropecuária com preconceito. Potências econômicas como Estados Unidos, Canadá, Alemanha e França valorizam e protegem com todos os instrumentos possíveis os seus setores agrícolas. O fato é que muitos não percebem os imensos efeitos diretos, indiretos ou induzidos pelo aumento das atividades econômicas relacionadas ao campo.
Colher, estocar e processar a safra demanda máquinas sofisticadas, estradas, pontes, secadores, silos. Comercializar, transportar e transformar os produtos do campo demanda cooperativas, tradings, navios, trens, portos. Isso gera procura por aço, componentes industriais sofisticados e serviços especializados no campo das finanças, do comércio, da segurança etc. Uma infinidade de efeitos indiretos e induzidos que, combinados aos efeitos diretos, dão uma dimensão da real contribuição da agropecuária para a economia do País. E na medida em que o campo agrega valor e especializa a sua produção, o potencial de benefícios para a economia e a sociedade cresce ainda mais. O Brasil já transforma grande parte dos seus grãos em carnes e componentes industriais. A fruticultura é considerada uma das mais diversificadas do mundo e alcança mercados sofisticados e rentáveis. Derivados da cana-de-açúcar podem ser transformados em garrafas pet e aviões já realizam os primeiros voos comerciais utilizando bioquerosene como combustível.
E é cada vez mais harmônica a relação entre a produção e o meio ambiente. Ao avaliarmos a evolução das emissões de gases entre 2010 e 2014 (último dado oficial) a agricultura teve aumento de 4,3%, a despeito do avanço do setor. Excetuando mudanças no uso da terra, com redução de 33,2% de emissões, a agricultura teve melhor desempenho que os setores de energia, indústria e tratamento de resíduos. Ao incorporar práticas sustentáveis, o Brasil já desponta como um competidor diferenciado, capaz de produzir, por exemplo, carne carbono neutro, como recentemente demonstrado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Em momento em que a maioria dos países se debate com o envelhecimento da população rural e com a baixa atratividade do campo para as novas gerações, o movimento no Brasil é exatamente o contrário. A agropecuária brasileira atrai cada vez mais jovens. São inúmeros os exemplos de startups e de jovens empreendedores que procuram atender produtores em busca do novo. Assim, o campo contribui para a construção de um conceito de País contemporâneo, focado no uso inteligente dos nossos recursos naturais, na produção sustentável e no bem-estar da população brasileira.
O campo contribui para a construção de um conceito de País contemporâneo, focado no uso inteligente dos nossos recursos naturais, na produção sustentável”