HISTÓRIA PRESERVADA
Imóvel de peroba-rosa que ficava no jardim Agari será sede do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros
Casa de peroba-rosa que ficava no jardim Agari, na área central de Londrina, está em fase de reconstrução no campus da UEL. Edificação, que vai abrigar o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, foi doada para a instituição de ensino. Objetivo é preservar a técnica construtiva e a arquitetura do imóvel do pioneiro Paulo Agari
Na avenida Paulista, em São Paulo, um imóvel projetado pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo em 1930 ficou conhecida como “Casa das Rosas”. Londrina também possui uma “Casa das Rosas” para chamar de sua. Embora não tenha sido construída em alvenaria e tampouco possua o estilo clássico francês da xará paulistana, a casa de peroba-rosa que ficava na rua Anita Garibaldi, jardim Agari (região central) de Londrina, também era famosa pelas rosas cultivadas em seu jardim. Agora a edificação histórica está sendo reconstruída em outro local, no campus da UEL (Universidade Estadual de Londrina), para abrigar o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros.
O primeiro proprietário da casa foi Shinquichi Agari, que era conhecido entre os amigos como Paulo Agari. Ele nasceu na província de Yamaguchi, Japão, em 20 de março de 1896. Agari interrompeu o curso de engenharia naval para vir ao Brasil. Trabalhou inicialmente na fazenda Guatapará (SP), onde era funcionário de uma usina de açúcar. Posteriormente, estudou o idioma português na capital paulista e casou-se com Hordália Santos Agari, em 1925, com quem teve três filhas: Odette, Ruth e Iveth. O pioneiro chegou em Londrina em 1932 para trabalhar como agrimensor e corretor da Companhia de Terras do Norte do Paraná.
A advogada Iveth Santos Agari Jorgensen, que reside em São Paulo, lembra das rosas plantadas no quintal. “No pomar tínhamos todo tipo de frutas. Papai plantava muitas verduras e flores e era famoso porque fazia vários enxertos e a nossa casa era como se fosse uma pequena Holambra”, disse, em entrevista à FOLHA por telefone. Segundo ela, além das muitas rosas, havia também dálias e lírios na propriedade. “A variedade de flores que existia na chácara era muito grande, mas o que mais vendíamos eram as rosas. E papai foi autodidata para realizar esse cultivo”, enalteceu.
Jorgensen ressalta que seu pai foi muito cuidadoso para
escolher o local de construção da casa. “Ele escolheu a parte mais alta da propriedade, para evitar que a residência sofresse alguma enchente”, destacou. “Eu fui criada ali. Estudei no colégio estadual no primário e depois continuei os estudos no ginásio estadual. Me recordo que a casa tinha um porão grande”, destacou, observando que seu pai transformou a propriedade de um alqueire e meio em uma espécie de campo experimental para árvores raras. “Tinha várias palmeiras delimitando a entrada da chácara”, destacou.
Agari decidiu vender a chácara porque parte de sua propriedade foi desapropriada para a construção da avenida Higienópolis. “Papai ficou muito desgostoso. Depois disso teve várias tentativas políticas de transformar a outra parte da propriedade em um parque ligado a uma escola”, apontou. Agari deixou Londrina em 1951. Ele foi responsável pelo loteamento da Vila Agari, em 1937; e do Parque Agari, em 1939; ambos em Londrina. Em 1950 loteou a Chácara Agari em Maringá.
“Papai foi um desbravador. Loteou terrenos em Apucarana, Marialva, Paranaguá e nas praias de Pontal do Paraná. Foi uma pessoa com muita visão de futuro e desenvolveu essa região toda”, destacou Jorgensen. Agari morreu na década de 1970 e Hordália morreu em 1990.
PRESERVAÇÃO
Após a desapropriação, a residência foi vendida à família Kitahara. Quando uma construtora decidiu erguer um prédio no local, a casa foi doada para a UEL, em 2006, a pedido do professor de arquitetura da instituição, Humberto Yamaki. O objetivo era preservar a técnica construtiva e a arquitetura da época. O professor realizou o levantamento arquitetônico da casa, a numeração de cada peça de madeira, a desmontagem e o transporte. “Isso é tão importante quanto a adaptação e a construção”, destacou Yamaki.
Antonio Carlos Zani, também professor de arquitetura da UEL, foi um dos responsáveis pelo projeto de reconstrução da casa. “Como ela está sendo montada dez anos depois de sua doação, muita madeira se perdeu. O primeiro desafio foi conseguir quem montasse a casa, pois a UEL não tinha mão de obra disponível e nem recursos”, apontou.
Em 2017 foram realizadas pela equipe do Neab campanhas e eventos a fim de arrecadar verba para a construção da nova sede. Conforme informou a diretora do núcleo, Maria Nilza da Silva, foram arrecadados aproximadamente R$ 11 mil. “Como parte da madeira que o professor Yamaki tinha marcado se perdeu, tivemos que fazer um novo projeto de montagem”, destacou Zani. Parte da madeira que se perdeu foi reposta com material oriundo das perobas-rosas que caíram no campus. A casa de madeira tem 83 m².
A obra de reconstrução está com a fundação e o madeiramento da casa concluídos, inclusive com a instalação do telhado. Faltam ainda as portas e janelas e a instalação das redes elétrica e hidráulica, itens que devem demandar outros R$ 20 mil.