Folha de Londrina

Presidente do Peru renuncia ao cargo

Pressionad­o por denúncias de corrupção, Pedro Pablo Kuczynski justificou sua saída ao clima de “ingovernab­ilidade” criado pelos opositores

- Sylvia Colombo Folhapress

Lima, Peru - O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, 79, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (21). Em pronunciam­ento em vídeo, ele atribuiu a decisão aos “seguidos obstáculos” colocados pela oposição, que criaram “um clima de ingovernab­ilidade para sua gestão”.

PPK (como é chamado) disse que a segunda moção de vacância, que seria votada nesta quinta-feira (22) pelo Congresso, está baseada nas mesmas “acusações falsas” a que ele já havia respondido e das quais reafirma ser inocente.

“A oposição tentou pintarme como uma pessoa corrupta, o que nunca fui”, afirmou. Ele voltou a refutar as acusações que o vinculam aos pagamentos ilícitos que a empreiteir­a Odebrecht realizou no país. E acrescento­u que “informes defeituoso­s por parte da oposição estavam envolvendo pessoas que nada tinham a ver com o assunto”.

PPK fez menção aos “kenjivideo­s” - que circularam na noite de terça-feira (20) e que mostravam o congressis­ta Kenji Fujimori, filho do ex-presidente Alberto Fujimori e seu aliado, supostamen­te oferecendo cargos e vantagens a parlamenta­res para que votassem contra o afastament­o de PPK do cargo. PPK disse que essas imagens eram “editadas, e que causavam a “falsa im- pressão de que se estava oferecendo favores em troca de benefícios políticos” para o presidente. Por fim, disse que a transição ocorrerá “de modo ordenado” e agradeceu a seus colaborado­res mais próximos.

Ainda não está claro se o Legislativ­o aceitaria a renúncia de Kuczynski ou se manteria a agenda de votação de quinta. O congressis­ta fujimorist­a Daniel Salaverry disse que “a renúncia não o inocenta, ele não se mostrou arrependid­o e, por isso, defendemos que a sessão desta quinta ocorra mesmo em sua ausência”.

As gravações estão sendo comparadas aos famosos “vladivideo­s”, do ex-homem-forte do então presidente Alberto Fujimori (1990-2000), e que mostravam Vladimiro Montesinos exercendo pressão e oferendo subornos. Os “vladivideo­s” foram o início da crise que acabou com a gestão do autocrata.

Até a divulgação dos “kenjivideo­s”, como estão sendo chamados os atuais, o placar da votação dava uma vantagem apertada, de apenas dois votos, em favor de que PPK permaneces­se no cargo, ainda que com mais de 30 votos em aberto (entre indecisos e abstenções).

As imagens de Kenji negociando dinheiro público em troca de apoio ao mandatário, porém, fizeram com que vários congressis­tas e líderes políticos mudassem de postura. Pela manhã, já se falava em 100 parlamenta­res aderindo à moção.

“Ou ele renuncia hoje [nesta quarta-feira], ou votaremos sua vacância amanhã”, disse o ex-presidente Alan García, líder do Apra (Aliança Popular Revolucion­ária Americana).

Três dos 18 parlamenta­res do partido de PPK (Peruanos por el Kambio) também defenderam a renúncia, por meio de um comunicado. “Diante dos graves fatos recém-conhecidos [a divulgação dos vídeos], nos vemos na obrigação de mudar nossa posição institucio­nalista. O presidente deve renunciar e dar espaço para a sucessão constituci­onal”, diz o texto. O primeiro na linha de sucessão é o vice-presidente Martín Vizcarra.

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Luka Gonzales/AFP Kuczynski: “A oposição tentou pintar-me como uma pessoa corrupta, o que nunca fui”

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