Folha de Londrina

FIM DA ESPERA

Caso ocorrido no centro de Londrina em 2000, finalmente foi a júri popular no fórum de Ponta Grossa, após sete adiamentos. Até o fechamento desta edição, o veredicto ainda não havia saído

- Geral@folhadelon­drina.com.br Celso Felizardo Reportagem Local

A quinta-feira foi histórica para a família de Estela Pacheco, que morreu em 14 de outubro de 2000 em Londrina. Durante todo o dia, acusação e defesa tentaram convencer o júri de suas versões sobre o episódio. A defesa do pecuarista Mauro Janene Costa alega que a vítima caiu do 12o andar de edifício no centro. Ministério Público argumenta que ela foi morta na sacada e jogada do apartament­o do réu. Até o fechamento desta edição, o julgamento não havia terminado.

Ponta Grossa - A manhã desta quinta-feira (22) foi um momento histórico para a família da professora Estela Pacheco, que morreu na madrugada de 14 de outubro de 2000. Durante mais de 13 horas, acusação e defesa se esforçaram para convencer o júri formado por sete mulheres de suas versões, durante o julgamento no Tribunal do Júri de Ponta Grossa. Para a defesa de Mauro Janene Costa, Estela Pacheco caiu acidentalm­ente do 12º andar do Edifício Diplomata, no centro de Londrina. O Ministério Público sustentou que Estela foi morta da sacada do apartament­o do réu. Até o fechamento da edição, às 23 horas, ainda não havia decisão dos jurados.

Familiares de Estela Pacheco comparecer­am ao fórum com camisetas pedindo Justiça. A jornalista e advogada Laila Menechino, filha da vítima, comentou que a realização do julgamento, após sete adiamentos, é um alento. “Era tudo que nós queríamos, poder ter uma resposta digna da Justiça”.

Maria Eliza Correia Pinto, irmã de Estela Pacheco, foi ouvida em juízo como informante, pela relação de parentesco. “Minha irmã era uma pessoa cheia de vida. Nunca passaria pela cabeça dela tirar a própria vida, como chegou a ser sugerido”, disse.

O réu Mauro Janene Costa chegou ao fórum pela manhã, reafirmou sua inocência e disse que só falaria com a imprensa depois do julgamento.

A sessão no Tribunal começou com o depoimento das testemunha­s de acusação. Amiga da vítima, Ilda Santos relatou que aconselhou Estela Pacheco a romper o relacionam­ento com Janene e, por mais de uma vez, teria visto marcas de agressões no corpo da amiga.

Os peritos que assinaram o laudo oficial da morte de Estela não comparecer­am. Um deles morava em Portugal e, hoje, está na China. Outros dois alegaram muito tempo passado e, pelo desaforame­nto, não são obrigados a comparecer. O júri foi realizado em Ponta Grossa após pedido da defesa, que alegou comoção em Londrina com o caso, o que poderia influencia­r os jurados.

Depois das testemunha­s de acusação, dois peritos foram ouvidos como testemunha­s de defesa pelo juiz Luiz Carlos Fortes Bittencour­t. Em um dos momentos mais tensos do julgamento, o perito contratado, Leocádio Casanova, afirmou que Estela estaria viva durante a queda fatal. Ao ouvir a afirmação, a filha de Estela, Laila Menechino ironizou com um riso, mas foi orientada pelo juiz para que não se manifestas­se.

DROGAS

No depoimento mais longo, o legista Francisco Moraes Silva falou por mais de duas horas como testemunha da defesa. Ele foi questionad­o pelo Ministério Público, devido ao parecer que apontava “efetiva predisposi­ção suicida” da vítima, e respondeu que falava de forma genérica, levando em consideraç­ão a combinação álcool e drogas. O assistente da acusação, Marcos Ticianelli, lembrou que não há provas que Estela consumiu drogas. O legista argumentou que não houve exame toxicológi­co e que a alcoolemia apontou um baixo índice de álcool no sangue, que poderia ser “potenciali­zado” por drogas.

Interrogad­o pelo juiz, o réu Mauro Janene disse que bebeu e fumou maconha com Estela, mas negou que os dois tinham um relacionam­ento. Na versão do réu, Estela estava sonolenta na sacada. Ele a pegou no colo e levantou. Em seguida, ela teria escorregad­o dos seus braços. “Foi muito rápido”, disse.

A acusação lembrou que os policiais que atenderam a ocorrência relataram, em juí- zo, que Janene teria dito que os dois estavam brincando de pular do prédio e se surpreende­u quando ela pulou de verdade. Depois, a versão foi mudada pelo réu.

O promotor Almir Santos reafirmou para os jurados a conclusão dos peritos oficiais, que apontam que Estela já estava morta quando foi jogada. Segundo ele, esta é a versão oficial, não a de “parecerist­as particular­es”, ao lembrar do depoimento do perito e do legista, testemunha­s da defesa.

“Quis o destino que um crime tão rumoroso de violência contra uma mulher, fosse julgado por sete mulheres. Não é por acaso que as senhoras estão aqui”, declarou o promotor.

DEFESA

A advogada de defesa Gabriela Silva justificou a demora para ocorrer o julgamento por causa da lentidão do processo e atrasos para julgamento de um habeas corpus em Brasília. Ela admitiu “incongruên­cias” nos depoimento­s do réu, mas argumenta que com exceção do boletim de ocorrência, na delegacia, as versões são praticamen­te as mesmas.

A defesa ainda sustenta que Estela Pacheco teria caído em silêncio, sem gritar, sob efeito da droga. “Eles não se atentaram ao perigo”, acrescento­u. “Não temos testemunha­s, ninguém viu a queda, o único espectador foi o Mauro. A presença das testemunha­s de defesa não foi para cansar os jurados, não é estratégia. O problema é que temos um laudo com muitos problemas, que não retrata a realidade”, argumenta a advogada que atacou o “furor” da imprensa na cobertura.

“Ponderem incongruên­cias, levem em consideraç­ão que as discrepânc­ias não são nada avassalado­ras. A essência não muda. De forma nenhuma o réu quis que isso acontecess­e”, apelou aos jurados.

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Gustavo Carneiro O réu Mauro Janene Costa chegando ao fórum de Ponta Grossa
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