LUIZ GERALDO MAZZA
Chamar alguém de “rebento de uma doidivanas” não se distancia dos gritos da torcida de futebol contra o árbitro
Havia nos anos quarenta no Ginásio Paranaense o professor Becker, alvo de molecagens dos alunos. Uma das perversidades que faziam contra ele era a de simular que estava chegando tarde (depois de já ter respondido à chamada) e com isso ser dispensado. Lembro que quando morreu uma espécie de sentimento de culpa coletivo levou a rapaziada a prestar as últimas homenagens ao mestre de francês.
Era muito sereno, mas quando percebia um sinal de tumulto reagia com voz forte e às vezes proferia irado “taberna de italianos bêbados!” Lembrei desse corte epistemológico e, ao mesmo tempo, pedagógico ao assistir ao confronto de agressões no STF entre os ministros Roberto Luis Barroso e Gilmar Mendes.
A retórica nem sempre é suficiente para amaciar, aveludar, o sentido das agressões. Afinal, chamar alguém de “rebento de uma doidivanas” ou “gerado por uma hetaíra” não se distancia dos gritos da torcida de futebol contra o árbitro dirigidos à sua genitora. Assim também quando, no esgrimir verbal, um chama outro de psicopata e ouve como resposta a insinuação de que faz de sua função magisterial um escritório de advocacia.
Se as decisões conflitantes e recentes do STF geram sensação de insegurança jurídica visível no recuo pretendido quanto à prisão depois da decisão de segunda instância e na carga de manobras visando a revisão (e em tantas outras situações como a da manutenção dos direitos políticos da ex-presidente cassada) é evidente que conflitos como os ocorridos no meio da semana só podem acentuar essa sensação.