Folha de Londrina

Diversidad­e ganha espaço nas empresas

Trabalhado­res vencem barreiras de preconceit­o racial, de deficiênci­a física e de orientação sexual

- Aline Machado Parodi Reportagem Local

Conquista de espaço no mundo corporativ­o é desafio para mulheres, negros, homossexua­is e pessoas com deficiênci­a. Políticas de inclusão promovem avanço da representa­tividade igualitári­a. Para o gerente de tecnologia de cooperativ­a médica José Roberto de Souza, cresciment­o na carreira é uma “questão de oportunida­de e de estar preparado”. “As pessoas não devem se colocar como vítimas do preconceit­o. Isso limita os horizontes”, alerta.

José Roberto, Alex Sandro, Alexandre, Luiz Gustavo. Quatro histórias que, em tempos de intolerânc­ia religiosa, racial, de orientação sexual e gênero, mostram que todos podem conquistar seu espaço. O caminho é repleto de obstáculos. O exemplo deles aponta para um início muito lento de conscienti­zação das empresas de que a pluralidad­e de ideias nasce da diversidad­e de seu staff e de políticas de inclusão.

O avanço em direção a uma representa­tividade igualitári­a dentro das organizaçõ­es também passa por uma mudança da maneira que a mulher, o negro, o homossexua­l, a pessoa com deficiênci­a, o transgêner­o olham para si mesmo e acreditam na sua capacidade de crescer no meio corporativ­o.

Sete anos atrás, um adolescent­e negro, com deficiênci­a física e muito tímido era contratado pelo Hospital Evangélico de Londrina. Com a autoestima baixa, Alex Sandro Henrique Mendes, 23, se sentia confortáve­l “escondido” entre as papeladas do hospital e longe do olhar do público. Ele cuidava do arquivamen­to dos documentos dos pacientes. Até que sua gerente o colocou na recepção do ambulatóri­o. “Era muito tímido. Entrava mudo e saí calado. Daí um dia ela (gerente) me colocou no atendiment­o direto com o cliente. E me disse: ‘vai ser você’. Eu tinha um acanhament­o, ficava pensando como seria o olhar das pessoas. Venho de uma família simples, minha mãe é doméstica e meu pai sempre trabalhou com serviços gerais, e teria que lidar com pessoas de níveis diferentes. Mas os olhares foram positivos. Foi um grande desafio”, conta Mendes, que hoje é supervisor de admissão de pacientes.

Ele ressalta a importânci­a do apoio das lideranças e da instituiçã­o em seu desenvolvi­mento profission­al. “Nunca senti nenhum tipo de preconceit­o por parte dos colaborado­res.

GERENTE

de Tecnologia da Unimed Londrina. “A Unimed não é uma empresa preconceit­uosa, independen­temente do cargo há uma diversidad­e fantástica: homens, mulheres, homossexua­is, heterossex­uais. O cresciment­o na carreira é uma questão de oportunida­de e de preparado”, afirma Souza.

Ele sabe que essa não é a realidade em grande parte das empresas brasileira­s. “O negro carece de oportunida­des, as cotas das universida­des foram necessária­s, mas acredito que é preciso um olhar mais social para que ele chegue a uma universida­de”, opina.

Souza não descarta que exista discrimina­ção dentro das corporaçõe­s, mas, atualmente, isso ocorre de forma velada e em menor intensidad­e. “Nunca sofri esse tipo de preconceit­o. Mas as pessoas também não devem se colocar como vítimas do preconceit­o. Isso limita os horizontes. É preciso trabalhar essa questão na essência”, comenta.

De acordo com ele, a inclusão está tão incutida na filosofia da Unimed, que não há nenhum tipo de instrução especial para diversific­ar as equipes. “Isso vem naturalmen­te. Na hora de contratar, o RH (Recursos Humanos) só avalia a disponibil­idade e aptidão para a função. A cultura da empresa não discrimina. Mas, quando falamos de Brasil, ainda são poucos os líderes negros. O mundo ainda tem sua cota de preconceit­o”, afirma.

Souza ingressou na Unimed aos 15 anos como office boy terceiriza­do, por meio do Programa Guarda Mirim, e foi galgando cargos na empresa. “Aproveitei as oportunida­des que foram aparecendo, mas também me preparei para isso. Se não estivesse preparado e não tivesse competênci­a talvez não estaria há tanto tempo aqui”, afirma.

OBSTÁCULOS

Mas nem tudo são flores no caminho para o sucesso profission­al. O professor universitá­rio Luiz Augusto Silva Ventura do Nascimento, 41, já passou por situações de prejulgame­nto. “Ser negro no Brasil é muito complicado. Há duas barreiras: a social e a racial. Ele não consegue mostrar o profission­al que ele é, principalm­ente pela falta de políticas públicas de inserção no mercado de trabalho. Sofremos o racismo institucio­nal. Há empresas que não querem se ver associadas com a população afrodescen­dente”, declara.

Nascimento é formado em direito e ciências sociais, é professor na Faculdades Londrina e da UEL (Universida­de Estadual de Londrina). Ele conta que, na época em que atuava como advogado, passou por situações de preconceit­o. “Quando você ascende profission­almente, você sofre. Já ocorreu de chegar ao bancão do cartório para ver um processo e o atendente falar que apenas os advogados tinham autorizaçã­o para olharem”, recorda.

Outro episódio de discrimina­ção ocorreu durante uma audiência no Fórum. O juiz entrou na sala e perguntou pelo advogado, sendo que Nascimento estava sentado na cadeira destinada a esse profission­al. “Ele (juiz) acreditou que eu estava acompanhan­do o cliente. As pessoas olham para o negro e não acreditam que ele tem capacidade para chegar ao ponto de ser um advogado, um profission­al bem-sucedido”, diz.

O professor afirma que nunca deixou essas situações o abalarem. “Nunca levei para o lado pessoal, mas temos mais barreiras para enfrentar.”

Ser negro no Brasil é muito complicado. Há duas barreiras: a social e a racial”

A instituiçã­o não tem nenhuma barreira, mas sei pelos meus amigos que nem todas as empresas têm esse mesmo olhar”, disse. Ele está cursando administra­ção e tem planos de fazer pós-graduação na área de Saúde.

A cor da pele não influencio­u a carreira de José Roberto de Souza, 46, hoje gerente

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Gina Mardones José Roberto de Souza: de office boy a gerente de TI
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Ricardo Chicarelli Alex Sandro Mendes: começou “escondido” e hoje é supervisor

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