Prejuízo na Argentina vira lucro no Paraná
País vizinho sofre com pior seca das últimas quatro décadas e projeta quebra forte da safra
No mercado altamente competitivo do agronegócio, nem sempre todos podem ganhar juntos. E a pior seca das últimas quatro décadas na Argentina é prova disso. Enquanto os nossos vizinhos ainda calculam as perdas das safras de soja e milho – que devem ultrapassar 15 milhões de toneladas – os produtores brasileiros aproveitaram a recente elevação dos preços da oleaginosa na Bolsa de Chicago para dar ritmo à comercialização em meio a colheita que segue intensa no Para- ná, já atingindo a marca de 75% do volume total. As vendas estão mais velozes que as do ano passado e o Deral (Departamento de Economia Rural) divulga os números oficiais na quintafeira (29).
A expectativa é que o Brasil colha na safra 2017/18 aproximadamente 113 milhões de toneladas de soja e 87,2 milhões de milho. O Paraná vislumbra de 19,2 milhões de toneladas da oleaginosa e 15,3 milhões de toneladas do cereal, somadas primeira e segunda safras.
Na Argentina, de acordo com dados da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, a queda esperada na produção de soja vai de 57,3 milhões de toneladas para 39,5 milhões, retração de 30%. Já o milho saiu da casa dos 38 milhões para 32 milhões, queda de 15%.
Nas últimas semanas, quem tinha soja para venda aproveitou para ganhar dinheiro. O bushel em Chicago passou dos US$ 10, refletindo diretamente em todo o mundo. Em Paranaguá, segundo a Scot Consultoria, a saca de 60 quilos atingiu a marca de R$ 80, valor que não se via há algum tempo. Agora, o mercado já deu uma arrefecida, mas os preços ainda estão em bons patamares. O mês de fevereiro, segundo o Deral, fechou com média de R$ 65. Nesta semana, em algumas praças, ainda está acima da casa dos R$ 70.
O analista da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro, relata que a alteração de preços aconteceu entre fevereiro e as duas primeiras semanas de março, mas ainda segue repercutindo nos contratos atuais. “Essa situação da temporada da Argentina, com a revisão da safra para baixo, refletiu diretamente no preço do mercado brasileiro. Quem tinha o produto para negociar, coincidindo com o momento de colheita, teve preços melhores para venda. Aliás, se pegarmos os números do Paraná e Mato Grosso, percebemos um avanço considerável na comercialização entre fevereiro e março e assim deve seguir.”
Apesar das chuvas na Argentina nas últimas semanas, não é mais possível recuperar produtividade neste momento. “Por isso, o preço deve seguir num patamar mais alto comparado ao início do ano.” Já os Estados Unidos entram nessa jogada de preços daqui a alguns meses. O plantio por lá se inicia em abril e maio com a colheita prevista entre setembro e outubro. “Vamos colocar no radar a situação deles daqui em diante. Por enquanto, o que tem pesado nos preços mundiais é a Argentina e as questões de câmbio.”
Projeção da quebra argentina é de 30% na soja e de 15% no milho