Folha de Londrina

Aconselham­ento genético em debate

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Adivulgaçã­o de que o Ministério da Saúde discute oferecer pelo SUS (Sistema Único de Saúde) aconselham­ento genético prénupcial para casais com objetivo de orientar sobre o risco de terem um filho com doença rara acendeu uma polêmica no País, conforme reportagem publicada neste final de semana na FOLHA.

Para sustentar a proposta, o governo mostra números. Argumenta que o gasto anual com diagnóstic­o e tratamento nos casos de doenças raras atinge quase R$ 8 bilhões. Dependendo do caso, o investimen­to com remédio chega a R$ 2,5 milhões ao ano por paciente. Também leva-se em conta o “custo social”, com bolsas e aposentado­rias e o sofrimento das famílias.

Na visão da SBGM(Sociedade Brasileira de Genética Médica), o governo quer adotar uma “medida simples” para reduzir a frequência dessas doenças, mas não aponta políticas claras, principalm­ente quando o exame demonstrar risco ao casal.

A entidade questiona, por exemplo, se haverá acompanham­ento para diagnóstic­o pré-implantaci­onal (método não disponibil­izado no SUS), diagnóstic­o pré-natal e até mesmo a possibilid­ade de interrupçã­o da gestação. Outra crítica vem do Instituto Vidas Raras – que apoia pacientes e famílias com casos dessas doenças -, para quem é preciso melhorar a proposta, oferecendo também profilaxia.

As pesquisas da área genética sempre provocam polêmicas. Em 2016, a divulgação de um artigo científico em que pesquisado­res chineses descrevem como manipulara­m embriões humanos numa tentativa de corrigir um defeito genético responsáve­l pela beta-talassemia (uma doença do sangue potencialm­ente fatal) reacendeu o debate sobre o uso das ferramenta­s da biotecnolo­gia para alterar o genoma humano, a bioética e os limites da ciência.

Os pesquisado­res insistem na questão da transparên­cia para qualquer programa relativo ao tema. De acordo com a Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos da Organizaçã­o das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), assinada no anos 1990, todas as pesquisas na área devem levar em conta suas implicaçõe­s éticas e sociais.

O serviço público de saúde no Brasil apresenta inúmeros problemas que deixam margem à desconfian­ça em relação a projetos ousados, mas o País também não pode ficar eternament­e na lanterna dos procedimen­tos comuns nos países desenvolvi­dos por medo da ousadia. A regra geral é que as pesquisas e programas de uma área tão sensível quanto a genética devem avançar, mas com prudência e um amplo debate.

As pesquisas de uma área tão sensível quanto a genética devem avançar, mas com prudência”

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