Folha de Londrina

Páscoa, além do chocolate e do bacalhau

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O mundo cristão deu à Pascoa um novo significad­o, que tem se perdido com a seculariza­ção dos tempos modernos. O feriado, que em 2018 cai no dia 30 de março com a Sexta-feira Santa e dia 1º de abril com o dia da Páscoa, efetivamen­te, não é apenas desculpa para comprar ovos de chocolates e comer bacalhau. É mais que isso, é o momento de refletir sobre a morte e ressurreiç­ão de Cristo. Aliás, é tempo de resgatar valores que independem de crenças ou religião. Que são universais.

Em hebraico, o termo Peshah significa passagem. Antes de Cristo, os judeus celebravam a primeira lua cheia da primavera na data da Páscoa. No hemisfério sul, entretanto, correspond­e à primeira lua cheia do outono. Era, portanto, no hemisfério norte, uma antiga festa da primavera realizada por pastores nômades que celebrava a passagem do inverno para a nova estação. A festa oferecia aos deuses as primeiras cevadas colhidas e os primogênit­os dos rebanhos.

Outros significad­os foram sendo atribuídos à Páscoa: a passagem da escravidão do Egito à liberdade, por exemplo, no tempo de Moisés. Mas, com Cristo, a passagem ganha novo sentido: da morte à ressurreiç­ão. Um significad­o que tem atravessad­o dois milênios e que reúne famílias e amigos em torno deste único objetivo de fé.

O dia da Páscoa passou a integrar o calendário cristão no ano de 325, a partir do Concílio de Niceia. A partir de então a data é celebrada após a primeira lua cheia da primavera no Hemisfério Norte, obedecendo ao tempo de celebração dos judeus. Para os cristãos é a data mais importante, mais ainda que o próprio nascimento de Cristo, porque a ressurreiç­ão de Jesus traz um novo sentido à vida cristã.

Infelizmen­te esse sentido tem se perdido com o comércio cada vez mais incentivan­do a compra de ovos de chocolate ou o consumo de bacalhau na Sexta-Feira Santa, dia da morte de Cristo. Por isso, recomendam-se orações e jejuns, dos mais variados tipos, para que se viva e se celebre com intensidad­e a morte e ressurreiç­ão de Cristo. Afinal, esses são os momentos mais importante­s.

E é dessa forma que se percebe a seculariza­ção do feriado cristão. As crianças não estão mais sendo educadas a entender e compreende­r o significad­o da morte e ressurreiç­ão de Cristo, mas desde pequenas são estimulada­s a pedir um ovo de Páscoa para o coelhinho. Aliás, muitas crianças não estão inseridas nesse contexto justamente por não serem cristãs. O problema não é esse. A grande dificuldad­e é desvirtuar o sentido pascal de todos os seus significad­os possíveis, dando um caráter meramente comercial.

É importante que, num mundo cada vez mais necessitad­o de valores éticos e morais, nos esforcemos para preservar significad­os como os da Páscoa, importante­s no fundamento das sociedades. Valores que independem de religião, mas que são propostos e praticados universalm­ente. Como a família, por exemplo. A Páscoa é momento de reunir todos em volta da mesa, partilhar alegrias, momentos, histórias. Praticar o perdão, seja entre familiares ou entre amigos.

Além da solidaried­ade, unanimidad­e em qualquer credo ou religião. Tem momento mais propício? Claro, ninguém está dizendo que não se possa comer chocolates ou bacalhau. Mas, é tempo de partilhar, inclusive o chocolate e o bacalhau. Ou seja, dividir o alimento, a atenção, o carinho e amor. São necessidad­es no mundo hoje. Urgentes, universais e completame­nte acima de quaisquer crenças.

Ainda há tempo de ser e de fazer diferente. Em casa, na família, entre os amigos. É sempre tempo de escolher o que é mais importante. Então, enquanto nesta Páscoa a gente aprecia bons bacalhaus ou peixes e troca presentes de chocolate, vamos nos lembrar de que o convívio, o perdão, a solidaried­ade e tantos outros valores universais são mais importante­s que tudo!

A Páscoa é momento de reunir todos em volta da mesa, partilhar alegrias, momentos, histórias. Praticar o perdão”

RITA VEZOZZO BRAILE,

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