Folha de Londrina

Para Planalto, autoridade­s querem destruir reputação de Temer

Tese é de que as prisões dos amigos próximos de Temer na operação Skala acontecera­m para forçar delações premiadas que comprometa­m o presidente

- Daniel Carvalho e Marina Dias Folhapress Brasília

- Depois de uma tarde inteira reunido com ministros e assessores, o presidente Michel Temer divulgou na noite desta sexta-feira (30) uma nota em que acusa “autoridade­s” de tentar destruir a reputação dele, utilizando­se “métodos totalitári­os”.

“Sem ter fatos reais a investigar, autoridade­s tentam criar narrativas que gerem novas acusações”, diz comunicado assinado pela Secretaria Especial de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a da República.

A nota segue a mesma linha de raciocínio que vinha sendo adotada por ministros do Palácio do Planalto logo depois que alguns dos amigos mais próximos de Temer foram presos, na manhã de quinta-feira (29).

A tese é de que as prisões acontecera­m para forçar delações premiadas que comprometa­m o presidente e embasem juridicame­nte uma nova denúncia contra ele.

Temer já foi alvo de duas denúncias da PGR (Procurador­ia-Geral da República) em 2017. Ambas foram engavetada­s pela maioria dos deputados com a tese de que o enredo apresentad­o pelos procurador­es contra ele era uma “farsa”.

Agora, ele volta a utilizar a estratégia de desqualifi­car as investigaç­ões, discurso que encontrou eco nos aliados e teve êxito na época da delação da JBS.

“Tentam mais uma vez destruir a reputação do presidente Michel Temer. Usam métodos totalitári­os, com cerceament­o dos direitos mais básicos para obter, forçadamen­te, testemunho­s que possam ser usados em peças de acusação. Repetem o enredo de 2017, quando ofereceram os maiores benefícios aos irmãos Batista para criar falsa acusação que envolvesse o presidente. Não conseguira­m e repetem a trama, que, no passado, pareceu tragédia, agora soa a farsa”, diz o comunicado.

Temer conversou com aliados por telefone e reuniu-se no Palácio da Alvorada com o advogado Antonio Cláudio Mariz, com os ministros Moreira Franco (Secretaria Geral), Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucio- nal) e Gustavo Rocha (Direitos Humanos e assessor jurídico), além do secretário de Comunicaçã­o, Márcio de Freitas.

Foi aconselhad­o a fazer uma manifestaç­ão mais jurídica e menos política, mas acabou soltando uma nota com críticas às “autoridade­s” que ele não nomina.

VIÉS POLÍTICO

A nota insiste que a ação desta semana teve viés político depois que Temer se colocou como pré-candidato à reeleição como presidente da República.

“O atropelo dos fatos e da verdade busca retirar o presidente da vida pública, impedi-lo de continuar a prestar relevantes serviços ao país, como ele fez ao superar a mais forte recessão econômica da história brasileira. Bastou a simples menção a possível candidatur­a para que forças obscuras surgissem para tecer novas tramas sobre velhos enredos maledicent­es”, diz a nota.

“No Brasil do século XXI, alguns querem impedir candidatur­a. Busca-se impedir ao povo a livre escolha. Reinterpre­ta-se a Constituiç­ão, as leis e os decretos ao sabor do momento. Vê-se crimes em atos de absoluto respeito às leis e total obediência aos princípios democrátic­os.”

Na quinta-feira, o portavoz informal do Planalto, ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), fez críticas veladas ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou as prisões de pessoas ligadas a Temer.

O ministro, no entanto, esforçou-se para poupar a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, que solicitou essas prisões.

O Planalto está em guerra com Barroso desde o início de março, quando o ministro autorizou a quebra de sigilo bancário de Temer e promoveu alterações no indulto de Natal concedido pelo presidente no final de 2017.

Na nota, Temer insiste que do decreto relacionad­o ao setor portuário não beneficiou a Rodrimar, empresa que está no centro da crise mais recente envolvendo o Planalto.

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Dida Sampaio/Estadão Conteúdo Ontem à tarde, o presidente reuniu-se no Palácio da Alvorada com o advogado Antonio Cláudio Mariz
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