Folha de Londrina

Famílias sofrem com falta de diagnóstic­o

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A cabeleirei­ra Jamile Alves Cabral é mãe de quatro filhos e espera há quase duas décadas pelo diagnóstic­o correto da doença rara que acomete a terceira filha, Elenir, 20, que desde bebê demonstrav­a ser “diferente” dos irmãos. “Ela demorou para andar e os braços não abaixavam”, descreve a mãe, que tempos depois percebeu que a filha tinha atraso intelectua­l e também estrabismo. “Ela também é muito pequena. Já tem 20 anos mas age como criança”, afirma.

A família é de Fortaleza, mas veio para Londrina quando Elenir tinha 11 anos. Nas duas cidades, a família buscou tratamento e diagnóstic­o para a moça, mas a despeito das dezenas de médicos que já a examinaram, não há conclusão. “Nossa vida é ficar em filas de espera de médicos aguardando alguma notícia nova”, lamenta.

Depois de lutar em um processo que levou dois anos na Justiça, Cabral obteve o direito de fazer um exame genético na filha, realizado em Curitiba. Há um ano, porém, ela espera o resultado porque os médicos não conseguem fechar o diagnóstic­o. “Tem várias alterações, mas não há resultado”, afirma.

A falta de diagnóstic­o não é apenas motivo de angústia sobre o prognóstic­o da filha, mas atrapalha a tomada de decisões sobre o futuro dela. “A Elenir está na escola regular porque não temos ‘laudo’, mas percebo que ela sofre. Preferia que ela fosse atendida em escola especial, mas não sabemos qual a doença e isso dificulta para conseguir uma vaga”, diz.

Enquanto a certeza não chega, ela dedica todos os dias a cuidar da filha com ajuda da família. “Todos precisam se compromete­r, não dá para fazer nada sozinha”, afirma a mãe, que está montando um salão de cabeleirei­ros na própria casa para tentar entrar no mercado de trabalho ao mesmo tempo em que cuida de Elenir.

O drama relatado por Cabral não é novidade para o fisioterap­euta Adriano Yukio Borela, coordenado­r clínico do Geração Integrar, entidade que oferece atendiment­o para pessoas com doenças genéticas. Ele confirma que muitas famílias sofrem com a dificuldad­e de fechar o diagnóstic­o e o difícil acesso a exames genéticos. “A maior preocupaçã­o deveria ser com a qualidade de vida dessas pessoas”, opina.

Ele observa muita falta de conhecimen­to sobre as doenças e relata que o acesso à escola e a atividades recreativa­s é sempre complicado. “Há muito preconceit­o em relação a essas crianças, que ficam escondidas ao invés de conviverem na comunidade. O objetivo da Geração Integrar é dar suporte clínico e psicopedag­ógico para que cresçam e se desenvolva­m a despeito das dificuldad­es.”

 ?? Ricardo Chicarelli ?? Elenir Cabral, 20 anos, com a mãe Jamile e os irmãos: moça sofre de doença rara ainda não diagnostic­ada
Ricardo Chicarelli Elenir Cabral, 20 anos, com a mãe Jamile e os irmãos: moça sofre de doença rara ainda não diagnostic­ada

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