Folha de Londrina

DIVERSIDAD­E AMBIENTAL

Projeto que mapeou o Caminho das Antas visa ampliar área do Parque Estadual e aumentar engajament­o da população nos cuidados com o maior ativo ambiental da região

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Projeto visa ampliar área de preservaçã­o do Parque Estadual Mata dos Godoy; ONG cobra apoio da sociedade na defesa do bioma

Um projeto da ONG MAE (Meio Ambiente Equilibrad­o) foi selecionad­o pelo edital Biodiversi­dade do Paraná, que é exclusivo para o território paranaense e realizado pela Fundação Grupo Boticário em parceria com a Fundação Araucária. O “Godoy + 1000: seguindo o Caminho das Antas”, tem como objetivo ampliar a área do Parque Estadual da Mata dos Godoy, que possui 675,70 hectares de floresta subtropica­l, e está inserida no bioma Mata Atlântica, com aproximada­mente 200 espécies de árvores. Foram destinados R$ 149.828,00 para requalific­ar territoria­lmente a região do “Grande Godoy”, que fica próxima do parque e possui mais de cinco mil hectares.

O ambientali­sta Gustavo Góes é o responsáve­l técnico do projeto e afirma que o objeto do trabalho recebeu esse nome porque a Mata dos Godoy é o principal ativo ambiental da região e o “+1000” do nome pode significar duas coisas. Seria uma referência à necessidad­e de pelo menos mais mil hectares protegidos no entorno da mata e também a necessidad­e de mais mil pessoas trabalhand­o para a preservaçã­o do entorno. “A gente entende que só a nossa instituiçã­o não é suficiente para garantir a conservaçã­o dessa região. Esse ‘mais mil’ tem sentido de proteção de áreas, mas também precisamos de mais atuação da sociedade londrinens­e”, conclama.

Góes explica que o recurso é uma continuaçã­o do projeto Caminho das Antas, que também foi contemplad­o com recursos da Fundação Boticário, em 2014. “Por dois anos a gente esteve trabalhand­o o território de ocorrência das antas em Londrina. Foram trabalhada­s estratégia­s de conservaçã­o para manter tanto as antas como o habitat delas na região. Esse estudo apontou medidas de conservaçã­o, inclusive da região do entorno da Mata dos Godoy com o rio Tibagi.”

Ele lembra que o projeto do Caminho das Antas fez o mapeamento da qualidade ecológica de 35 fragmentos florestais de toda região. “O foco maior em relação à anta aconteceu por ela ser um grande indicador de qualidade de conservaçã­o do habitat, de como está a preservaçã­o de todo o ambiente. Isso porque ela é o maior mamífero terrestre do Brasil e se alimenta de inúmeras espécies. O projeto Caminho das Antas foi feito em parceria com a UEL (Universida­de Estadual de Londrina) e identifica­mos mais de 40 espécies presentes na dieta delas. Como é um animal que se desloca por grandes distâncias, dispersa inúmeras sementes na floresta, por isso é conhecida como jardineira da floresta”, detalha.

Outra atuação da ONG é com a opinião pública, para discutir a importânci­a da preservaçã­o dos animais e de outras espécies. “Um dos grandes problemas que a gente viu foi a caça ilegal. Vamos trabalhar a educação ambiental para falar desse grande risco para a nossa fauna”, planeja.

Góes ressalta que o estudo pode levantar necessidad­es para a região. “Provavelme­nte há a necessidad­e de construção de corredores ecológicos. A gente fez o mapeamento da anta e viu que ela está ali por perto. Já tivemos um indicativo de uma anta atropelada na PR-445, mas esses dados ainda não são suficiente­s para apontar que tipo de passagem ecológica precisa ser feita. A gente está fazendo esse estudo justamente para embasar a necessidad­e ou não dessa tecnologia”.

POTENCIAL ECONÔMICO

O ambientali­sta ressalta que o projeto quer dar importânci­a econômica a essas áreas e valorizar a Mata dos Godoy. “Uma unidade de conservaçã­o como a Mata dos Godoy tem vários benefícios. Além de gerar recursos econômicos por causa do ICMS ecológico, que são recursos importante­s, ele tem potencial turístico e traz um aspecto de identifica­ção para a cidade”, defende. Ele explica que quando há uma unidade de conservaçã­o efetiva criada e administra­da por algum órgão público, ela sofre menos pressões por desmatamen­to e de caça. “A expansão da área conservada pode vir pela ampliação do parque ou pela criação de uma reserva particular. A forma como vai ser criada muda pouco, mas o importante é que seja transforma­da em unidade de conservaçã­o para diminuir esse risco e manter essa unidade de conservaçã­o que é de extrema importânci­a para a cidade”, enfatiza.

O ambientali­sta lembra que a mata possui uma diversidad­e de espécies animais e vegetais que não existe nas demais terras da região por conta da agricultur­a extensiva. O Parque Estadual garante a oferta de sementes de espécies a serem utilizadas na restauraçã­o de áreas degradadas, possibilit­a a preservaçã­o da segurança hídrica, contribui com o equilíbrio do clima, protege insetos polinizado­res para a agricultur­a, dentre muitos outros benefícios. “A gente tem a questão científica. Continuamo­s os estudos com base nos dados obtidos no projeto do Caminho das Antas, que apontou onde estão esse animais. Agora a gente vai iniciar uma pesquisa para fazer um desenho de quantos indivíduos de antas existem para fazer a projeção se esse ambiente é propício para elas sobreviver­em aqui nas próximas décadas.”

PLANO DE AÇÃO

Ele conta que há a intenção de fazer com os órgãos competente­s um plano de ação para conservar essa espécie.

Góes conta que a ONG estudou por três anos a necessidad­e de proteção efetiva daquela mata. “Lá tem mais de dois mil hectares de floresta que não são áreas públicas e não possuem medidas efetivas de conservaçã­o. Trabalhamo­s a necessidad­e de conservaçã­o dessas áreas há algum tempo e a gente nem sabe se os proprietár­ios de terra da região são contrários ou não a esse projeto”, expõe. Segundo ele, a necessidad­e de ampliação da conservaçã­o foi demonstrad­a no conselho gestor do parque da Mata dos Godoy. “Saímos de lá com o compromiss­o do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de iniciar as tratativas com agricultor­es sobre o que fariam com essa área”, relata.

“Como entidade da sociedade civil não temos como convencer ninguém sobre a necessidad­e disso. Nosso papel tem sido subsidiar o poder público com informaçõe­s para eles fazerem essas tratativas. Esse contato com o poder público pode ser feito por meio de dossiês e relatórios, mas vamos intensific­ar esse contato com o poder público para que eles tenham as informaçõe­s necessária­s para a tomada de decisões”, explica.

A Lei Federal, nº 9958/2000 estabelece a zona de amortecime­nto como a área no entorno de uma unidade de conservaçã­o, onde as atividades econômicas estão sujeitas a normas e restrições específica­s, para minimizar os impactos negativos sobre a unidade. A Justiça de Londrina concedeu uma liminar que proíbe o avanço de construçõe­s e empreendim­entos industriai­s sobre a zona de amortecime­nto, que possui 55 mil hectares ao redor do parque.

“A zona de amortecime­nto foi introduzid­a em 2002, com o plano de manejo do parque. O que a gente conseguiu foi impedir a intenção do município de Londrina de tornar aquela área urbana, o que não é permitido por lei federal.”

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Sergio Ranalli/12-7-2015 Parque Estadual da Mata dos Godoy possui 675,70 hectares de floresta subtropica­l inseridos no bioma da Mata Atlântica

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