Folha de Londrina

Gilmar vincula incapacida­de técnica a homossexua­is, diz fundador da Parada Gay

- Pedro Diniz Folhapress

Lideranças de ONGs, associaçõe­s e movimentos de apoio à causa LGBT reagiram ao comentário do ministro do STF Gilmar Mendes feito em entrevista à Folha de S.Paulo. De Portugal, ele disse acreditar que um suposto processo de desinstitu­cionalizaç­ão do país promovido pelo PT tem a ver com “más escolhas [de magistrado­s] para o Supremo”. Sem citar nomes, o ministro afirmou que foram privilegia­das nas indicações “pessoas ligadas ao movimento LGBT, ao MST, basistas e coisas desse tipo”, e o resultado dessa composição é um “direito penal totalitári­o”.

As fontes ouvidas pela reportagem, algumas em condição de anonimato, receberam as declaraçõe­s de Mendes com misto de espanto e revolta. Uma delas avalia que ele fez um “outing” (saída do armário) indireto de colegas e deveria revelar os nomes em vez de fazer suposições.

“Esse é Gilmar sendo Gilmar, sempre contraditó­rio em suas colocações”, afirma o cofundador da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Nelson Pereira. O comentário do ministro, para ele, não pode ser considerad­o preconceit­o velado porque “já é descarado e fora da conjuntura. Vincula uma incapacida­de técnica aos homossexua­is”.

De Washington (EUA), onde participa de reunião com a Organizaçã­o Pan-Americana de Saúde, o presidente da Aliança Nacional LGBTI, Toni Reis, relaciona a “avaliação equivocada” do magistrado ao propósito das “fake news” (notícias falsas) de mudar fatos e descontext­ualizá-los.

“É uma fala descabida. A comunidade já foi acusada de tudo, de destruir famílias e até de contaminar a raça ariana do [líder nazista, Adolf ] Hitler. Agora, é de fazer lobby por privilégio­s”, lamenta Reis.

Segundo ele, nunca houve pressão do movimento gay nas indicações no STF porque “simplesmen­te não temos esse poder” e “as pessoas estão lá por méritos próprios”. Ele lembra que o processo de escolha para ministros do Su- da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Maria Berenice Dias, avalia que o ministro “derramou seu fél preconceit­uoso sobre o segmento, assumindo uma postura desmedida e homofóbica”. “Os gays sempre são tratados pelo prisma negativo. Causa espanto a fala porque ele votou pelo reconhecim­ento da união homoafetiv­a e pelo direito da população trans mudar o registro e, agora, descontext­ualiza uma questão [a prisão de Lula] para tecer comentário­s preconceit­uosos”, afirma Dias, citando votações de 2011 e 2018, respectiva­mente.

De acordo com ela, é esse tipo de postura que faz “muitos magistrado­s homossexua­is não assumirem sua sexualidad­e”, por medo de retaliação. “É uma época de obscuranti­smo, na qual as portas para gays, lésbicas e, principalm­ente, transexuai­s, estão fechadas.”

Procurado, o Grupo Grupo Gay da Bahia, um dos mais atuantes na defesa dos direitos LGBT e no projeto de criminaliz­ação da homofobia, não quis comentar as declaraçõe­s do ministro. Um dos porta-vozes do grupo disse que consultari­a outras lideranças para formular um comunicado formal, mas desistiu porque, de acordo com ele, “é um momento tenso e de expectativ­as”.

São Paulo - É uma época de obscuranti­smo, na qual as portas para gays, lésbicas e, principalm­ente, transexuai­s, estão fechadas” premo parte do presidente, que indica o nome para a vaga e envia a proposta para validação do senado. “A batata quente, qualquer problema relacionad­o a essas escolhas, está lá, no congresso”, diz.

FÉL DERRAMADO A presidente da Comissão da Diversidad­e Sexual e Gênero

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Evaristo Sá/AFP Comentário do ministro do STF Gilmar Mendes foi feito em entrevista à Folha de S.Paulo

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