LUIZ GERALDO MAZZA
Para que ato de resistência civil tenha êxito, indispensável é que seja fermento de mobilização
Como Lula só iria manifestar-se às 16 horas ficou meio implícito que ou resistiria ou faria a sua apresentação à Polícia Federal em São Paulo, o que trucaria a ordem de Sérgio Moro que afinal desconsiderou recursos cabíveis no próprio TRF-4 como o embargo dos embargos. Lula teria menos de uma hora para deslocar-se a Curitiba para uma sala reservada há 15 dias.
Para que um ato de resistência civil tenha êxito indispensável é que seja fermento de mobilização e que esteja acompanhado de manifestações como as havidas no Paraná ao longo desta sexta-feira (6) em locais históricos como Porecatu, raiz dos núcleos de organização de posseiros nos anos 50; Campo Bonito do Iguaçu, onde a PM matou o líder Teixeirinha no governo Requião como revide à execução de três soldados da P-2 pelo MST; e em Quedas do Iguaçu, área do nosso maior conflito fundiário contra a Araupel e próxima do local em que partiram os tiros contra a caravana de Lula que segundo a polícia científica vieram de uma garrucha. Afinal, a obsolescência do instrumento não reduz a gravidade do evento.
Essa dramatização era esperada ao lado de outros saques como o de intervenção junto ao órgão de Direitos Humanos da OEA, Organização dos Estados Americanos, por uma série de abusos judiciais e um suposto estreitamento do direito de defesa. O fato que por seu ineditismo ganhou destaque internacional também é intensamente aproveitado.
Como a vítima, dentro das nossas tradições e cacoetes culturais, é mais forte que o acusador as esquerdas jogam todo o seu potencial no possível confronto de olho nas eleições, seja na preservação da candidatura mesmo preso e alcançado pela Ficha Limpa, mas rendendo para o momento de intensa dramaticidade. Algo com o líder vivo, capaz de reprisar o havido com Getúlio Vargas morto. Um delírio, mas há momento mais apropriado para isso?