As falas de um nostálgico general
Se você não conseguiu se sentir incomodado com certas falas de um tal general, se você entende que aquilo dito é apenas parte do exercício de uma qualquer liberdade de expressão, se em sua consciência partes de uma história ditatorial-militar desse país sequer lhe causam alguma apreensão: então, sinto lhe informar, mas temos um problema. Um sério problema.
As ditas falas daquele então tal general (ainda general) não são meros exemplos de liberdade de expressão, como declarou Michel Temer. Tão impossível quanto o desejo de querer acreditar nisso, apenas nisso, é o próprio posicionamento do presidente em exercício, ou em desconhecer o Regulamento Disciplinar do Exército (R-4), ou em se apequenar em realmente ser um ex-presidente em exercício, um fantoche.
Quatro transgressões, conforme discriminadas no Anexo I do mesmo documento, dos itens 57 ao 60, sumariamente. E até mesmo com um certo destaque para a primeira dessa série de transgressões: “manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária”. Muito ingênuo, ou terrivelmente objetivado, aquele que não compreende os discursos nostálgico-seiscentistas de Villas Bôas.
O pseudo amotinado general diz falar em favor de uma certa ordem institucional, em repúdio à impunidade, sob algum derespeito à Constituição (sic), paz social e democracia. Mesmo quando as instituições já foram desbaratadas, desacreditadas, e seguem prontamente desqualificadas. Mesmo quando a impunidade de que fala se abnega a alguns tais. Numa própria fala que afronta diretamente a Constituição, e a democracia, atentando diretamente contra essa tal paz social que o mesmo julga defender.
Se não hipócrita, se não apenas ignorante à suas próprias ações e palavras, está minimamente objetivado em promover um repeteco de um 1964. Ameaçando as instituições, a Constituição ou a democracia, que diz querer defender. Suas falas repercutiram na caserna, nos quartéis. E até pelas ruas, verbalizadas por anônimos saudosistas, em falas absortas de elogios ao regime ditatorial homicida daqueles que vestem farda.
Quando se ouve que “na ditadura não havia corrupção”, é bom lembrar ao interlocutor que foi naquele período onde a corrupção mui deliberadamente se propôs em institucionalizar-se junto ao poder. Que havia sim, e era deveras, mas o som daqueles que a denunciavam fora abafado nas inúmeras covas clandestinas, sob os coturnos da ordem fardada.