Folha de Londrina

O Brasil e a prisão de Lula

- TENENTE DIRCEU CARDOSO GONÇALVES, dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

Chegou, finalmente, o dia do ex-presidente Lula curvar-se à lei e ao Estado. Depois dos recursos à segunda instância e tentativas de trancament­o da sentença condenatór­ia nas cortes superiores, recebeu ele ordem de prisão. Por mais diferencia­do que se ache ou seja, não terá como dela fugir, a não ser que renuncie à cidadania. Mas, se o fizer, também perderá a oportunida­de de defender-se e, de alguma forma, safar-se das imputações. O melhor a fazer é submeter-se, recorrer nos devidos foros e aguardar a decisão soberana da Justiça.

Retirante nordestino fugido da seca e da miséria, Lula é um vencedor. Aproveitou a térmica do fim do regime militar, estabelece­u-se como sindicalis­ta e político e foi o primeiro operário a conquistar a presidênci­a. Privilegio­u o marketing e ganhou popularida­de, mas é acusado de graves atos de corrupção e violação de princípios governamen­tais e administra­tivos. Viu-se lançado à vala comum dos corruptos e, embora se vitimize e recite o mantra de que “não há provas”, já foi condenado num e responde a outros processos resultante­s de delações de corruptos corporativ­os que com ele se relacionar­am e dizem ter-lhe pago propinas. Sua condenação é um duro golpe às esquerdas brasileira­s e, em especial, ao seu partido.

A prisão é uma cena de corte na vida política nacional. É o primeiro ex-presidente a ser condenado e preso, mesmo desfrutand­o de boa posição em pesquisas de intenção de votos e reunindo muitos seguidores. Oxalá o bom senso impere, a defesa faça seu trabalho pelos canais competente­s e seus seguidores não transforme­m os protestos em desobediên­cia civil. Se o fizerem, as autoridade­s constituíd­as têm o dever de impedir, mantendo a ordem pública e principalm­ente o direito de ir e vir da população. As ameaças de mobilizaçã­o de “exércitos” informais e outras bravatas lançadas tanto pelo condenado quanto pelos seus seguidores e simpatizan­tes não podem prevalecer, pois compromete­m a democracia que todos dizem defender.

Vivemos um ano eleitoral atípico. Além da prisão do ex-presidente e de outras ex-estrelas do mundo político e empresaria­l, temos centenas de políticos, potenciais candidatos, também enrolados com a Justiça. A execução das sentenças deve ser ato rotineiro, assim como a defesa dos réus. Será um grande retrocesso se o regular funcioname­nto do Poder Judiciário desaguar em crise. Democracia não é um regime onde tudo pode, mas um sistema que garante a liberdade de todos os cidadãos, mas deles exige o estrito cumpriment­o das leis e, através do devido processo legal, pune os que insistirem em não observá-las...

O país precisa de paz para trabalhar, eleger seus governante­s e parlamenta­res e, até, exigir que os acusados de irregulari­dades prestem contas de seus atos. Tudo o que divergir disso, será impróprio.

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