Bloqueio tem impacto na rotina dos moradores
Curitiba - O bloqueio por conta do acampamento formado em protesto contra a prisão do ex-presidente Lula na Superintendência da (PF) Polícia Federal, bairro Santa Cândida, em Curitiba, desde sábado, foi avaliado de diferentes formas por moradores e visitantes do bairro. Há um ano morando em uma casa da rua Professora Sandália Monzon, algumas quadras abaixo da sede da PF, a babá Maria da Luz teve a rotina diretamente impactada pelo bloqueio no primeiro dia útil desde a prisão. “Saí atrasada para trabalhar porque a condução que leva meu neto para a escola atrasou com a confusão no trânsito e tive que voltar antes do trabalho, porque o retorno dele foi antecipado”, conta.
Além disso, a caminhada de cinco minutos até o trabalho, que fica atrás do prédio da Superintendência da PF, foi transformada em 20 minutos com direito a uma longa subida.
Apesar do transtorno, Maria quer que o ex-presidente e os demais políticos que praticaram algum crime tenham o mesmo destino. “Creio que esse povo que está acampado vai embora logo, logo. Quem roubou dinheiro público precisa ser preso e isso vale para todos os políticos, pois só os bra- sileiros que trabalham sabem o quanto a vida ficou mais sofrida”, afirmou. Exemplo disso é que o único filho que ela conseguiu ver formado no curso superior, em Direito, concluído em 2010, não conseguiu trabalhar com a profissão até o momento. “Pegou um serviço administrativo em um cemitério”, diz.
Na Borracharia do Pedro, localizada na Rua Professor Barreto Coutinho, paralela a Rua Professora Sandália Monzon, o responsável disse que o movimento no estabelecimento foi normal. “Não mudou a nossa rotina, mesmo movimento”, resumiu o borracheiro e proprietário, Pedro Padilha. Há 35 anos no mesmo endereço, Padilha considerou “feia” a confusão no sábado (7). “Mas aqui estamos acostumados com os problemas de briga no posto durante o fim de semana, vira e mexe morre um”, comparou. Sobre a prisão de Lula, ele lamenta. “Ele foi um bom presidente para nós. Minha esposa e eu ficamos muito tristes.”
Para a babá Maria da Luz, mesmo com todo o medo que sentiu no sábado, ela conta que fez questão de ir até a praça para testemunhar a história. “Aquilo virou uma praça de guerra, mas tinha que ver porque essa história, a nossa história, ficará guardadinha em mim”, acredita.
APOIO
O acampamento e a prisão também motivaram visitas ao bairro Santa Cândida. As professoras da rede pública estadual atravessaram a capital de um extremo a outro. “Saímos do Capão Raso para prestar solidariedade aos acampados e dar apoio, pois eles manifestam a nossa indignação contra o golpe”, explicou a professora Carmem Amado. “A prisão do Lula é uma grande injustiça, tinham que esperar todas as instâncias do processo”, sentenciou a professora Beatriz Guilherme. Ambas projetam na praça a mesma força de pressão que a emblemática Praça de Maio de Buenos Aires, na Argentina, que cravaram lugar na história com as Mães de Maio que cobravam notícias de seus filhos desaparecidos durante a ditadura.
Nesta segunda, um movimento batizado como “Acampamento Lava Jato” emitiu um comunicado cobrando providências da Prefeitura de Curitiba quanto à instalação de barracas de militantes petistas. Segundo a advogada Paula Milani, coordenadora do grupo, a ordem judicial também não estaria sendo cumprida. “Os moradores estão desesperados com a falta de segurança. Também há muita sujeira no Santa Cândida. Eles não estão tendo o direito de ir e vir respeitado”, ponderou. A organização favorável às investigações é composta por aproximadamente 50 pessoas. Segundo a comunicação do governo estadual, o esquema montado na região não será alterado. (colaborou Rafael Machado)