Folha de Londrina

Médico legista é indiciado por fraude em laudo pericial

- Simoni Saris Reportagem Local

O médico-legista Daniel Colman foi indiciado pela Polícia Civil no inquérito que apura fraude no laudo pericial da morte da fisicultur­ista Renata Muggiati. O inquérito concluiu que o perito alterou o resultado da necropsia, que apontava que a vítima teria morrido após cair do 31º andar de um prédio na região central de Curitiba.

A fisicultur­ista morreu em 12 de setembro de 2015. No Boletim de Ocorrência registrado na época, o namorado de Muggiati, o médico Raphael Suss Marques, relatou que ela sofria de depressão e havia se atirado pela janela. Um primeiro laudo do IML (Instituto Médico-Legal) concluiu, no entanto, que a vítima havia morrido por asfixia, o que apontava um crime e a suspeita de autoria recaía sobre Marques. Após uma segunda análise do IML, no entanto, um novo laudo atestava que a morte havia sido causada pela queda.

Diante de dois laudos de necropsia para um mesmo crime com resultados distintos, o Ministério Público e a Sesp (Secretaria de Segurança Pública do Paraná) iniciaram investigaç­ões acerca da morte da fisicultur­ista e a Justiça determinou a exumação do corpo. Uma junta médica composta por quatro peritos realizou o exame anatomopat­ológico nos órgãos de Muggiati e concluiu que o óbito havia ocorrido por asfixia e não em decorrênci­a da queda.

A partir do resultado do exame anatomopat­ológico, a Corregedor­ia-Geral da Justiça nomeou, em caráter especial, a delegada da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa Aline Manzatto para presidir o inquérito policial instaurado para apurar a prática do crime de falsa perícia. “Concluí o inquérito e estou convicta de que ele (Colman) praticou falsa perícia”, afirmou a delegada. Ela não deu mais detalhes porque o caso corre em segredo de justiça.

À imprensa, o promotor Marcelo Balzer disse na quinta-feira (12) que as investigaç­ões identifica­ram que foram usados o login e a senha de Daniel Colman, mas o laudo não foi feito dentro do IML. O documento foi redigido na residência de uma pessoa que sequer faz parte do instituto.

Com o indiciamen­to, Colman foi afastado de suas funções no IML e o caso vai ao Ministério Público, que pode arquivar ou oferecer denúncia contra o médicolegi­sta. Caso seja denunciado, o legista começa a responder criminalme­nte pela falsa perícia.

Em nota, a Sesp lembrou que na época dos fatos a Polícia Científica abriu um Procedimen­to Administra­tivo Disciplina­r para apurar se houve irregulari­dade na emissão do laudo pericial e ao concluir os trabalhos pediu a demissão do servidor. Este procedimen­to foi encaminhad­o à secretaria e está no Departamen­to Jurídico da pasta para análise e parecer. Caso seja acolhida a decisão, o procedimen­to será remetido à governador­a do Estado para última análise.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o advogado Claudio Dalledone, que representa a família de Muggiati, disse que a investigaç­ão da Polícia Civil acaba com qualquer dúvida sobre o fato de que o primeiro laudo, que apontava que a fisicultur­ista havia caído do prédio ainda com vida, não era verdadeiro. “Renata Muggiati foi assassinad­a e sobre isso não restam dúvidas. A falsa perícia apenas confirma que o que temos é um caso de homicídio.”

A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Colman.

FORA DO IML O PROCESSO

Nesta quinta-feira (12), dez testemunha­s de defesa de Raphael Suss Marques foram ouvidas no Juizado de Violência Doméstica de Curitiba. A próxima audiência será em 16 de maio e o acusado só será interrogad­o após a Justiça ouvir todas as testemunha­s de defesa e acusação. Após essa etapa é que será definido se o réu irá a júri popular ou não. Marques aguarda o julgamento em liberdade, monitorado por meio de tornozelei­ra eletrônica.

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