AVENIDA PARANÁ
A história do procurador de Justiça aposentado João Eduardo Miguel
Hoje o Dr. João vai acordar, tomar café e abrir o jornal de todas as manhãs. É possível que ele venha a passar os olhos pela coluna de um cronista de sete leitores; nesse caso, virá à sua lembrança uma história.
Trata-se da história de um menino chamado João. Nascido há 80 anos em Capivari, interior paulista, é o caçula de oito filhos numa família pobre de imigrantes sírio-libaneses. Desde pequeno, João se revelou muito inteligente e estudioso. A par de um desempenho impecável na escola, encontrava tempo para ajudar no sustento da família: vendia roupas para os moradores da pequena cidade.
A mãe queria que João fosse padre. Ele chegou a entrar no seminário, mas sua verdadeira vocação estava no Direito. No entanto, o sonho da mãe se realizou com outro filho, hoje o Monsenhor Jorge Simão Miguel, de Piracicaba, que há poucos os dias visitou o irmão mais novo.
Casou-se com Renê, amada da vida inteira, com quem teve dois filhos, Eduardo e Renata. Depois de se formar, João prestou concurso público e tornouse promotor de Justiça. Trabalhou em diversas cidades do interior de São Paulo, onde conquistou notoriedade nos meios jurídicos por suas brilhantes atuações no Tribunal do Júri, para as quais certamente contribuíram anos de leitura dos clássicos e dedicação aos estudos. Nos anos 80, mudou-se para a cidade de São Paulo, onde atuou como procurador de Justiça até quatro anos atrás. Aposentou-se aos 76 anos de idade e decidiu mudar-se para Londrina, terra pela qual se encantou graças ao filho Eduardo.
Na leitura diária dos jornais, uma coisa que faz o Dr. João sofrer muito é a corrupção. Durante toda sua carreira no mundo das leis, ele era conhecido pelo rigor ético e a conduta irrepreensível. Com ele nunca houve conversas fora do lugar, subentendidos e outras sinuosidades características do mal que aflige nosso país.
Dr. João tem o costume de tratar a todos da mesma maneira gentil e solícita, sem distinção de origem ou classe social. Eduardo conta que um dos maiores ensinamentos do pai foi o de evitar a todo custo o egoísmo e a vaidade. Colocando a si mesmo em segundo plano, ele sempre entendeu um dos cernes da mensagem cristã: a de que o sentido da vida não se realiza em nós mesmos, mas está na descoberta do outro. Assim vive o homem justo, celebrado nos livros sapienciais do Antigo Testamento.
Em geral, o cronista não possui uma grande relevância na vida das pessoas. Por alguns, ele é até mesmo repudiado. Mas que bom seria se hoje, mesmo que só por hoje, eu pudesse colocar um sorriso no rosto de meus sete leitores; melhor ainda se um desses sorrisos fosse o de Dr. João Eduardo Miguel.
Que bom se hoje, talvez só por hoje, eu pudesse colocar um sorriso no rosto dos meus sete leitores