CÉLIA MUSILLI
Mito das cidades perdidas sempre fascinou pesquisadores e aventureiros.
O mito das cidades perdidas sempre fascinou pesquisadores e aventureiros. Imaginar que um importante centro cultural e histórico pode ter sido engolido pelo mar ou ter sumido com a erupção de um vulcão são fatos comprovados pela geologia, mas que nem sempre são dados como verdadeiros a partir das primeiras investigações.
Imaginem se daqui a 100 milhões de anos ninguém mais tiver notícias de São Paulo, a capital que poderia soçobrar por algum fenômeno terrestre que, mais dia menos dia, muda montanhas de lugar, recolhe as águas do mar, cria desertos, separa continentes, como se alguém pegasse uma faca e fatiasse o pão, sem saber onde foram parar alguns pedaços.
Se é complicado imaginar uma cidade perdida, que dá o maior trabalho aos geólogos, imaginem o que significa provar que nalgum lugar existiu um continente inteiro, perdido entre ciclos de 400, 500 e até 600 milhões de anos.
Pois isso é o que acaba de ser revelado por pesquisadores que afirmam: há 600 milhões de anos existiu um supercontinente chamado Panótia, que antecipou outro conhecido como Pangeia, e esse novo/velho continente foi descrito pela primeira vez em 1997. Tudo isso se enquadra dentro de uma teoria supercontinental que obedece a ciclos, proposta por Damian Nance e Tom Worsley, geólogos respeitados da Universidade de Ohio (EUA). Eles sugerem que, em vários momentos, a Terra se junta ou se reparte formando novos continentes. Tudo isso influencia a evolução dos oceanos, a atmosfera e a biosfera e, sobretudo, o comportamento do manto magnético do planeta.
Agora, Nance e o colega Brendan Murphy, da Universidade de St. Francis Xavier (Canadá), publicaram artigo numa revista científica de Londres defendendo a existência de Panótia, o tal continente velhinho de 600 milhões de anos atrás. Eles afirmam que o reconhecimento de grandes massas terrestres já desaparecidas não pode se basear apenas na reconstrução de modelos dos continentes que conhecemos agora. É preciso considerar a formação de montanhas, as rupturas e fendas que ocorrem quando massas continentais se separam. Enfim, nosso planeta pode ser comparado à massa de pão que esticamos ou juntamos conforme nossos humores, só que isso ocorre numa escala macro que põe os cientistas a pensar muitas vezes “onde foi parar aquele pedaço”.
Uma das cidades desaparecidas mais citadas é Atlântida, criada por Platão, mas trata-se de uma cidade mítica, ao passo que outras, realmente existiram. É o caso de Caral, no Peru, que era uma metrópole com práticas complexas de agricultura, arquitetura sofisticada, pirâmides, plataformas e templos que dariam inveja até mesmo aos habitantes de Dubai. Também existiu uma cidade chamada Urkesh, entre 4.000 e 1.300 a.C. - um centro político e religioso, localizada entre a Síria e a Mesopotâmia - que foi soterrada por areia, até ser reencontrada em 1980 quando descobriram os restos de um palácio, um templo e uma praça.
Pensando nos continentes e cidades que desaparecem, confesso que nos últimos tempos fiquei refletindo sobre um importante centro político que ainda não deu sinais de cair em nenhuma desgraça geológica, mas dá sinais constantes de decadência que nos faz pensar até quando os deuses irão poupar as autoridades que nela habitam sem enviar nenhuma tempestade, inundação ou erupção que provoquem rachaduras, fissuras e fendas.
Pois é, leitores, fiquei pensando até quando os deuses serão bondosos com Brasília e seus monumentos de tirar o fôlego, onde habitam políticos que nos tiram também a paciência. Mas só pensei, sem cometer pecado, sem ver ainda por lá nenhum sinal de desastre por água ou fogo, apesar de sua aura mística que conta com sacerdotes que visitei nos anos 1990, mas essa é uma outra história.