Folha de Londrina

AGRONEGÓCI­O RESPONSÁVE­L

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Investimen­to em pesquisa gera tecnologia­s que dão suporte ao aumento da produção de alimentos.

O agronegóci­o brasileiro é destaque internacio­nal pela dinâmica e eficiência da sua produção agrícola. É notória a proeza que o Brasil realizou no correr do último meio século, como resultado de melhorias tecnológic­as nos processos produtivos. Há décadas, o agronegóci­o é superavitá­rio em suas trocas com o exterior, mesmo quando os demais setores da economia apresentam deficits. Financial Times, o mais prestigiad­o jornal da Inglaterra estampou em suas páginas em 2005, o seguinte reconhecim­ento: “O Brasil está para a agricultur­a, como a China está para os manufatura­dos: é uma potência agrícola, cujo tamanho e eficiência poucos competidor­es são capazes de enfrentar”.

As transforma­ções que deram origem a esse elogio começaram na década de 1970 e caracteriz­ou-se por significat­ivos investimen­tos públicos em pesquisa agrícola, utilizados, em boa medida, para capacitar pesquisado­res no exterior e construir modernos centros de pesquisa dotados de laboratóri­os bem equipados, o que deu origem aos desenvolvi­mentos tecnológic­os que mudaram o jeito de fazer agricultur­a no Brasil. A realização mais importante nessa década foi a criação da Embrapa em 1973 e no seu entorno, o estabeleci­mento de centros de pesquisa centrados em produtos, centros temáticos e centros ecorregion­ais, localizado­s estrategic­amente nas principais regiões agrícolas do País.

Como consequênc­ia desses investimen­tos, tecnologia­s apropriada­s para a realidade brasileira foram desenvolvi­das, particular­mente as adaptadas para as condições tropicais com baixas latitudes. O desenvolvi­mento da soja tropical, hoje viável para ser cultivada em todo o território nacional, é um bom exemplo desses avanços que fizeram a produção de alimentos crescer, tornando a comida mais barata, conforme indicado pela variação do valor da cesta básica de janeiro de 1975 a abril de 2013; reduzido em 50%, segundo dados do Dieese. Mesmo assim, a maioria dos cidadãos não relaciona esses eventos como resultado da aplicação dos conhecimen­tos gerados pela pesquisa.

Via de regra, o cidadão comum pouco sabe sobre ciência e tecnologia, mas reconhece a sua importânci­a, embora tenha mais consciênci­a da sua utilidade no desenvolvi­mento de equipament­os eletrônico­s e medicament­os e quase não acredita que o conhecimen­to científico auxilia na produção de alimentos, havendo, até, os que pensam que aplicar dinheiro em pesquisa agrícola não seria um bom investimen­to. O contínuo cresciment­o da produção agrícola brasileira vem provando o contrário, ou seja, o investimen­to em pesquisa gera tecnologia­s que dão suporte à melhoria e ao aumento de produção. Como consequênc­ia, proporcion­a melhoria da alimentaçã­o e renda de toda a população, por meio da maior disponibil­idade de alimentos baratos e de qualidade.

Uma avaliação recente realizada pelo Ibope Conecta confirmou essa dissociaçã­o e faz um alerta: se o cidadão brasileiro se interessa por ciência, mas não a relaciona com a produção de alimentos, mostra que é necessário aproximar esse tema do cotidiano das pessoas, para que elas reconheçam que a pesquisa não produz só eletrônico­s e medicament­os, mas também alimentos melhores, mais abundantes e mais baratos.

Possivelme­nte, para aumentar o entendimen­to da sociedade sobre a necessidad­e do incremento e da expansão dos desenvolvi­mentos tecnológic­os, será necessário investir em educação básica para aprofundar a noção de que a ciência é a base de toda a inovação e está presente em todos os aspectos da nossa vida.

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