Violência e desigualdade
Fico estupefato com as soluções prontas e imediatistas para o fim da violência no Brasil. Embora aceite que atitudes mais drásticas e de índole policial devam ser usadas em determinados momentos, acho tremendamente míope que a maioria ainda acredite ser esse o caminho para um país de Paz.
O IBGE trouxe, mais uma vez, os números humilhantes de 2017 sobre a distribuição de renda. 10% dos brasileiros detêm 43% da renda, e os 10% mais pobres ficam com os 0.7%. São patamares de desigualdade que não se têm alterado nos últimos anos. E quer aceitemos ou não, é aqui que devemos buscar as causas da violência e, por que não, a solução! Perdemos tempo discutindo intervenções ou buscando recursos estratosféricos para o combate à criminalidade, e quase nunca enfrentamos esta verdadeira chaga geradora de tensões e conflitos e de crimes de todo o tipo.
O capitalismo não é per si sinônimo de exploração. Geração de riqueza não pode ser alvo de um juízo ético ou moral que aponte perversidade. Desejar que o Brasil cresça de forma consistente e que o acesso aos bens emancipe os brasileiros, devolvendo-lhes a dignidade legítima, é, a meu ver, um anseio conatural a qualquer cidadão de bem. Leis justas, desburocratização do estado e reformas imediatas farão com que os avanços econômicos respondam de imediato ao tão almejado equilíbrio e reduzam as desigualdades sociais que nos caracterizam. Em tese, não temos como divergir deste raciocínio.
Mas, lamentavelmente, o Brasil está longe de ser um país “pronto”, construído, pacificado. Não importa se temos duzentos anos de independência ou se já vivenciamos experiências várias ao longo do período republicano. Correria muita tinta para justificar os atrasos e os fossos que o IBGE apontou. Teríamos inúmeras teorias sobre o assunto. Me prendo principalmente ao dilema que nos é colocado e que está longe de ser inédito: aumentamos o bolo e depois o dividimos? Ou criamos condições para que todos vão comendo desse bolo enquanto ele cresce? A espera pelo bolo grande já se mostrou ineficiente e geradora de exclusões no passado. Verdadeira causa da violência endêmica. A construção do bolo simultaneamente partilhado nos remete para questões que hoje nos são caras! Um conceito de Estado que seja verdadeiro moderno; presente no essencial e árbitro eficiente. Um combate aos desperdícios com a continuidade da condenação de corruptos e consequente eliminação da impunidade. Novidades na classe política, com real sensibilidade epidérmica aos mais desfavorecidos e erradicação de privilégios humilhantes.
A desigualdade na sociedade brasileira é a traça que rompe o tecido social e gera fungos de violência. As tensões que se tornam visíveis e agudas numa potencial guerra de classes denotam impaciência de um lado e intolerância do outro. Os estereótipos de centro e periferia que arrastam preconceitos vários urgem um combate eficaz com políticas habitacionais democráticas, e resgate da dignidade de quem habita nos bolsões de miséria, a anos-luz do Brasil que deseja avançar. A paciência, quando se trata de resgatar a igualdade, continua sendo uma virtude, mas, quem tem fome tem pressa e todos querem pacificar o Brasil, fazendo-o um país agradável para se viver. As nossas cidades já não escondem mais a babilônia em que vivemos. E a segregação de bairros inteiros criando pequenos oásis, apenas gera ilusões e esquizofrenia. O caldeirão para o que chamamos de sociedade violenta já possui todos os ingredientes. Recorrer a medidas policiais e a opressões várias, sem buscar os temperos certos, é aumentar o fogo de um cozinhado que nos envenenará.
Já estamos atrasados para iniciar um processo de reconciliação nacional; o que é bom para um o será para todos e as minorias não formarão castas num vale de lágrimas generalizado. A diferença salarial da média brasileira de 2.112 reais para o topo da pirâmide, bem como as aposentadorias fora de qualquer razoabilidade, não têm ajudado nada.
A desigualdade na sociedade brasileira é a traça que rompe o tecido social e gera fungos de violência”