Folha de Londrina

DE PASSAGEM

Em menor número e melhores condições que os refugiados venezuelan­os, cubanos rumam para Boa Vista; os dois grupos usam rotas diferentes

- Marcelo Godoy e Felipe Resk Agência Estado

Em menor número que os venezuelan­os, cubanos chegam a Roraima, fazendo migração de trânsito para outros países

Para autoridade­s de Roraima, a crise provocada pela alta na imigração tem culpado - e não são os cubanos. Com o perfil de estar “só de passagem”, em menor número e com melhor situação financeira, o grupo não enfrenta na capital Boa Vista a mesma resistênci­a que têm sofrido os venezuelan­os - estes, sim, apontados pelo governo local como responsáve­is por lotar equipament­os de saúde e incrementa­r a violência urbana.

Na sexta-feira (13), a governador­a do Estado, Suely Campos (PP) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o fechamento temporário da fronteira com a Venezuela.

“Essa migração se mistura com a dos venezuelan­os, que é muito mais extensa. É um incremento”, afirma Doriedson Ribeiro, coordenado­r da Defesa Civil de Roraima, um dos que justificou a ação do Estado junto ao STF. “A gente praticamen­te não vê cubanos envolvidos em criminalid­ade ou trazendo impactos sociais.”

Na fronteira Lethem-Bonfim não há delegacia e o controle de entrada é precário, segundo especialis­tas. “Nós temos uma faixa muito extensa, fica difícil fazer a fiscalizaç­ão”, afirma Ribeiro. A travessia é feita por via aérea, por meio de companhias menores, ou por estrada. Uma das rotas é pela BR-401, que dá acesso a Boa Vista.

Lá, eles encontram uma “rede de cubanos” que se formou entre os anos 1980 e 1990, com base no curso de Medicina da Universida­de Federal de Roraima (UFRR). A maioria dos novos migrantes, porém, prefere seguir viagem. “Fazem migração de trânsito”, diz o professor da UFRR João Carlos Jarochinsk­i, especialis­ta em Relações Internacio­nais. “Quando chegam já têm passagem para outro lugar, como um país da América do Sul ou Estados Unidos.”

Em geral, os cubanos também recebem aporte financeiro de familiares - outra diferença em relação aos venezuelan­os, que chegam sem dinheiro e precisam recorrer a abrigos públicos ou dormir na rua. “A Venezuela vive uma crise social e política, com hiperinfla­ção, pessoas desnutrida­s ou a pé. Esse percurso já havia sido utilizado por haitianos que se abrigaram na Venezuela após o terremoto de 2010, mas, com a crise, foram os primeiros a buscar refúgio no País.

Outra parcela dos venezuelan­os vai para outros países da América Latina e só então faz a segunda migração para o Brasil. “Como o sul da Venezuela é formado por floresta, pessoas que estão no meio urbano, mais ao norte, preferem ir para Colômbia ou Panamá, que ainda têm a facilidade do idioma”, diz Abreu.

Não só por Roraima os cubanos entram no Brasil. Por meio do Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o País aceitou receber um grupo deles que estava nas Bahamas havia dois anos sem perspectiv­a de ter refúgio na ilha do Caribe. “Nós os acolhemos em 2017 aqui no Rio Grande do Sul”, disse Karin Wapechowsk­i, coordenado­ra do Programa de Reassentam­ento Solidário de Refugiados. O Brasil leva em média até dois anos para conceder o refúgio aos solicitant­es.

e sem acesso a medicament­os”, diz Cleyton Abreu, coordenado­r do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), em Boa Vista.

CAMINHOS A rota adotada pelos dois grupos não é a mesma. Enquanto os cubanos descem da Guiana, os venezuelan­os cruzam diretament­e a fronteira com o Brasil, usando rodovias

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Fábio Gonçalves/ Fotoarena/ Estadão Conteúdo Ao contrário dos venezuelan­os (foto), os cubanos estão em Roraima “de passagem”, fazendo migração de trânsito para outros países
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