‘Única riqueza que nos restou é a cultura’
O líder da aldeia da cidade, Renato Kriri, acredita que a “única riqueza que restou para os caingangues é a cultura”. “Se eu não tivesse isso dentro de mim eu poderia ser despejado. Poderia deixar o Centro Cultural Caingangue”. A comunidade de Kriri não considera a casa de passagem na zona sul porque é distante do centro, onde o grupo vende artesanato, além da marca histórica que o local na avenida Dez de Dezembro possui para o grupo.
Para Renato Kriri, o respeito entre o índio e o não índio surge pelo conhecimento da cultura de cada um. “Os indígenas só aparecem na imprensa quando fecham as estradas. Nossa cultura tem que ter espaço na cidade, nas escolas”, explica. “A gente educa quando nossos indígenas estão na universidade. Eu oriento aos jovens que eles devem aprender, organizarem-se e serem profissionais para termos advogados para a questão de terras, termos médicos para a comunidade”, conta.
Tapixi lembra que embora os índios ocupem locais urbanos, o grupo tem uma conexão especial com a mata. “Nós gostamos do mato porque quando a gente entra na floresta as árvores conversam com a gente. Existem três qualidades de passarinho que nos avisam. Conforme o cântico deles, sabemos que vai acontecer uma coisa boa dentro da aldeia. A gente anda no mato e o mato fala conosco. Vamos tomar banho no rio Tibagi, sentados em cima das pedras, nus, e a água para de se movimentar. Já aconteceu comigo, com minha avó e com minha mãe”, lembra.
O líder caingangue também lembrou a força de sua comunidade na resistência por mais de 500 anos em contato com o não indígena. “Vocês [não índios] lutaram para acabar com a gente, mandavam matar a gente, massacravam a gente. Quiseram acabar com a gente mas agora está difícil, agora não acabam mais. Nós precisamos de vocês e vocês precisam de nós”.