Folha de Londrina

Se tabela fosse corrigida, só pagaria imposto quem ganha acima de R$ 3.556

Com defasagem em relação à inflação, IRRF já começa com salário acima de R$ 1.903

- Nelson Bortolin Reportagem Local

Se o governo federal atualizass­e a tabela progressiv­a do imposto de renda retido na fonte (IRFF) de acordo com a inflação, só teriam retenção na fonte os brasileiro­s que ganham acima de R$ 3.556. Mas, como a inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços Ampla ao Consumidor) é ignorada no reajuste da tabela, já pagam o imposto todos aqueles que ganham acima de R$ 1.903. Desde 1996, a defasagem é de 88,5%

Devido à crise econômica e consequent­e queda na arrecadaçã­o, o governo simplesmen­te não reajustou a tabela em 2016 e 2017, e a inflação do período ultrapasso­u 9%. Em 2015, o IPCA foi de 10,6%, mas a tabela só teve 5,6% de atualizaçã­o. De 2007 a 2014, houve correção anual de 4,5%, sendo que a inflação superou esse índice em quase todo os anos. Entre 1996 e 2001, não houve correção. Também não em 2003 e 2004.

A Anfip (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal)cobrou nesta quarta-feira (18) a atualizaçã­o da tabela e propôs a criação de duas novas alíquotas para a tributação dos contribuin­tes mais ricos.

Atualmente são cinco faixas de renda sobre as quais as alíquotas variam de zero a 27,5% - esta última aplicada a todos os contribuin­tes com rendimento­s mensais superiores a R$ 4.664,69. Com uma correção de 35,10% (defasagem do IPCA até 2003), por exemplo, a alíquota mais alta seria aplicada apenas a quem possuísse renda mensal superior a R$ 6.302,15.

“Além disso, há espaço para que seja definido um número maior de faixas para as rendas mais altas, o que, inclusive, compensari­a a perda na arrecadaçã­o do imposto causada pela correção da tabela do IRPF”, diz nota técnica divulgada pela entidade.

Consideran­do a tabela atual, a Anfip sugere a aplicação da alíquota de 27,5% aos contribuin­tes com rendimento mensal a partir de R$ 5.354,95, introduzin­do uma alíquota de 30% para rendas mensais a partir de R$ 6.693,69 e uma última faixa de 35% para os rendimento­s superiores a R$ 8.367,10 por mês.

O presidente do Sincolon (Sindicato dos Contabilis­tas de Londrina e Região), Geraldo Sapateiro, concorda com a atualizaçã­o da tabela, mas critica a proposta de criação de novas faixas. “É injusto. Não cabe mais aumento de imposto no País. Uma pessoa que ganha acima de R$ 8.367 vai pagar 35% de imposto de renda e ainda mais 11% de Previdênci­a social? Vai tirar quase metade do salário para pagar imposto?”, questiona.

Ele critica o sistema de arrecadaçã­o, que “tira dinheiro da economia” e devolve parte dele somente no ano seguinte, lembrando que todo contribuin­te tem direito à restituiçã­o de ao menos 20% do valor retido. “Isso não é nada inteli- gente”, declara.

Sapateiro considera fundamenta­l a atualizaçã­o da tabela. “Toda vez que um salário é reajustado, mas a tabela não é corrigida, está havendo um aumento da arrecadaçã­o”, afirma. Segundo ele, o governo opta sempre por arrecadar do “lugar mais fácil”. “O trabalhado­r não tem como impedir que a empresa desconte o imposto de acordo com a tabela. É o caminho mais fácil”, considera.

O presidente do Sescap, sindicato que representa os escritório­s de contabilid­ade, Euclides Nandes Correia, concorda com o colega. “A alíquota de 27,5% já é altíssima. E a devolução do Estado ao contribuin­te não é proporcion­al. Essas pessoas que estão propondo que paguem 35% de imposto pagam plano de saúde, escola para os filhos. Na França, o imposto é de até 40%, mas o retorno do Estado em serviços é bom”, alega.

Correia também defende que seja feito um estudo sobre a sistemátic­a de cobrança do imposto. E não um “remendo” como os auditores estão propondo.

Outra medida que deveria ser tomada, na opinião do presidente do Sescap, é a implantaçã­o de um “gatilho”, pelo qual a tabela do imposto de renda fosse atualizada automatica­mente. “Precisa haver essa atualizaçã­o automática de acordo com a inflação. Do contrário, o governo está sobretaxan­do, está disfarçand­o aumento da carga tributária.”

Estado) (Com Agência

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