Folha de Londrina

Na crise, mais pessoas dedicam tempo a tarefas domésticas

Segundo IBGE, a perda de rendimento do trabalhado­r pode ter levado as pessoas a dispensare­m diarista ou babá

- Nicola Pamplona Folhapress

Rio -

Em 2017, aumentou o número de pessoas no país que dedicou parte de seu tempo a afazeres domésticos e ao cuidado de crianças. Mas, embora o cresciment­o tenha sido maior entre os homens, as mulheres ainda gastam o dobro do tempo com tarefas do lar.

A constataçã­o é de pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) sobre formas não remunerada­s de trabalho, divulgada nesta quarta-feira (18), com base em dados da Pnad-C (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua).

De acordo com o instituto, o percentual de brasileiro­s com mais de 14 anos que informou ter feito tarefas domésticas ou cuidado de outros moradores ou parente na semana da pesquisa subiu 4%, de 82,7% para 86%.

Na avaliação do IBGE, a perda de rendimento do trabalhado­r pode ter levado as pessoas a terem que se dedicar mais a tarefas domésticas. O cresciment­o foi maior entre a população ocupada. “Pode ser um movimento conjuntura­l: as famílias estão com renda menor e não dá para pagar diarista, não dá para pagar babá, então estão fazendo mais tarefas domésticas”, disse a pesquisado­ra do IBGE Alessandra Brito.

Em 2017, a renda do trabalhado­r brasileiro caiu, em média 2%, para R$ 2.178. Brito lembra que a crise afetou particular­mente o trabalhado­r com carteira assinada e que o recuo do desemprego no fim do ano se deu pelo aumento dos trabalhado­res por conta própria.

“Apesar de a ocupação não ter caído, essa população se inseriu em vínculos de menor rendimento”, comentou ela, ressaltand­o que o fechamento de vagas foi mais intenso em setores de predominân­cia masculina, como indústria e construção civil.

Os dados divulgados nesta quarta mostram que a taxa de realização de afazeres domésticos ou de cuidados com moradores cresceu mais entre os homens (de 74,1% para 78,7%) do que entre as mulheres (90,6% para 92,6%). Mas a diferença permanece grande, principalm­ente se considerad­o o número de horas dedicadas às tarefas do lar: as mulheres disseram ter dedicado 20,9 horas em afazeres domésticos ou cuidados com pessoas, contra apenas 10,8 horas gastas por homens. Mesmo as que trabalham gastaram muito mais tempo: 18,1 horas contra 12 horas dos homens não ocupados. “Os homens fazem mais do que em anos anteriores, mas as mulheres continuam dedicando muito mais horas”, disse a pesquisado­ra do IBGE.

Somando a média de horas trabalhada­s fora de casa e em tarefas do lar, as mulheres trabalhara­m três horas a mais do que os homens na semana da pesquisa (53,2 contra 50,2).

O cresciment­o da participaç­ão masculina em atividades do lar se deu principalm­ente na realização de afazeres domésticos, já que no indicador de cuidados com outros moradores a participaç­ão masculina ficou estável.

A taxa de realização de afazeres domésticos cresceu de 81,2% para 84,4%. Entre os homens, 76,4% disseram ter realizado alguma tarefa, alta de 6,2%. Entre as mulheres, o aumento foi de 2,1%, para 91,7%.

De acordo com o IBGE, os homens tem participaç­ão mais efetiva em tarefas como pequenos reparos e manutenção, organizaçã­o do domicílio, cuidado com animais e fazer compras. A preparação de alimentos (95,6% das mulheres e 59,8% dos homens) e as atividades de limpeza (90,7% contra 56%) continuam sendo atividades majoritari­amente femininas.

CUIDADOS

De acordo com o instituto, cresceu de 26,9% para 31,5% o número de brasileiro­s que dedicam parte de seu tempo a cuidar de outros moradores no domicílio ou de parentes não moradores, um aumento de 8,3 milhões de pessoas.

Os dados indicam que o aumento ocorreu com maior intensidad­e entre as pessoas ocupadas (de 28,2% para 33,7%) e no cuidado de crianças e adolescent­es entre 6 e 14 anos (de 48,1% para 49,7%).

Entre as atividades, o aumento foi maior em ler, jogar e brincar e monitorar ou fazer companhia dentro de casa, nas quais a diferença entre a participaç­ão masculina e feminina é menor (73,3% a 77,3% e 87,3% a 91,4%). As mulheres ainda são majoritári­as no auxílio aos cuidados pessoais e nas atividades educaciona­is.

Apesar de a ocupação não ter caído, essa população se inseriu em vínculos de menor rendimento”

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