Folha de Londrina

Natureza: umaquestão de bem-estar e saúde pública

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No início do século XX, John Muir, reconhecid­o como o “Pai dos Parques Nacionais dos EUA”, já dizia que todo ser humano necessita de alimento, lugares para brincar e rezar, onde a natureza pode inspirar e curar, fortalecen­do o corpo e a alma.

Os bens e serviços oferecidos pela natureza são essenciais para a vida e a saúde das pessoas. A qualidade do ambiente em que vivemos – ou seja, o ar que respiramos, a água que bebemos, a comida que comemos, a regulação do clima e muitas outras caracterís­ticas do ambiente natural – desempenha­m um papel fundamenta­l no nosso bem-estar.

A ausência do contato com a natureza debilita o bem- estar das pessoas, provocando uma ruptura desse vínculo e podendo resultar em inúmeros problemas. Segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde ( OMS), 25% das doenças mundiais são atribuídas aos fatores ambientais (ambiente degradado), na qual a poluição do ar é responsáve­l por aproximada­mente 3,3 milhões de mortes/ano em todo o mundo. Sem contar que, ainda, 1,1 bilhão de pessoas vive sem acesso à água limpa. Além disso, recentes pesquisas realizadas na Austrália destacam que a ausência do contato com a natureza resulta em grande incidência de sobrepeso ou obesidade, transtorno mental, aumento de diabetes, entre outras consequênc­ias.

O impacto do distanciam­ento do ambiente natural ainda pode ser mensurado em termos financeiro­s. O Seguro de saúde Medibank Private estimou que, em 2008, a falta de atividade física na natureza custou 13,8 milhões de dólares. Atualmente, a depressão é um dos principais problemas na Austrália e seus custos associados somam mais de US$ 14,9 bilhões, anualmente. A vida urbana foi identifica­da como um fator-chave no estresse e na saúde mental, contribuin­do para um estresse crônico e consequent­e diminuição da qualidade de vida. Por outro lado, pesquisado­res destacam que 15 minutos de caminhada em um parque ou outra área verde natural podem amenizar esses eventos estressant­es e melhorar a visão da vida, de acordo com o artigo “Por que a natureza é benéfica?”, publicado por pesquisado­res da Universida­de de Illinois e Oberlin College.

Outras pesquisas relatam diferenças significat­ivas entre as populações clinicamen­te deprimidas que realizaram programas de recuperaçã­o em ambientes fechados e aqueles que usaram espaços abertos, considerad­os verdes. Os pacientes que participar­am de programas de recuperaçã­o ao ar livre relataram aumento da autoestima e condições emocionais mais estáveis em comparação com os outros.

Em 2014, durante a Convenção- quadro das Nações Unidas sobre Diversidad­e Biológica (CDB), a OMS reconheceu que a biodiversi­dade e a saúde humana estão fortemente interligad­as. Portanto, conectar as prioridade­s globais da biodiversi­dade e da saúde não é apenas prudente, mas uma forma de assegurar no longo prazo a resiliênci­a da sociedade e o bemestar das gerações futuras.

Essas e outras evidências confirmam que os seres humanos são totalmente dependente­s da natureza, não só pelas suas necessidad­es materiais, mas também por suas necessidad­es psicológic­as, emocionais e espirituai­s.

Para finalizar, vale destacar a beleza natural do Brasil, em especial dos parques nacionais, estaduais e municipais, e recomendar uma visita a essas áreas como verdadeiro remédio - sem qualquer contraindi­cação!

Pacientes que participar­am de programas de recuperaçã­o ao ar livre relataram aumento da autoestima e condições emocionais mais estáveis em comparação com os outros”

LEIDE TAKAHASHI é gerente de Conservaçã­o da Biodiversi­dade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, membro da Rede de Especialis­tas em Conservaçã­o da Natureza e doutora emConserva­ção da Natureza.

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