Folha de Londrina

Sem manutenção, parques urbanos perdem visitantes

Especialis­tas defendem que a ocupação de áreas públicas pela população reduz o vandalismo e incentiva poder público a cuidar

- Carolina Avansini Reportagem Local

Na primeira visita que fizeram a Londrina, o analista de sistemas Eliezer Becker de Melo e a artesã Eugênia de Melo se surpreende­ram ao visitar o Parque Arthur Thomas (zona sul) em um sábado de manhã.“Um lugar tão lindo com tão pouca gente!”, exclamaram eles, que vivem no interior de São Paulo, praticam escotismo e têm o hábito de visitar parques públicos em todos os locais por onde passam.

Questionad­os sobre uma explicação relativa à pouca frequência de visitantes, eles arriscaram dizer que falta, no local, uma estrutura que incentive a permanênci­a, como parques infantis, lanchonete, espaços para piquenique­s e até mesmo a manutenção geral do espaço. “Por outro lado, já estivemos em parques com menos estrutura e muito mais movimentad­os. Também depende do hábito da população”, comparam.

A percepção dos turistas reflete um dilema que passa pela cabeça de muita gente que frequenta os parques de Londrina. Não há manutenção pela falta de uso ou as pessoas não frequentam porque não estão bem cuidados? Zerão, Parque Arthur Thomas, Lago Norte, Lago Cabrinha e Bosque Municipal Marechal Cândido Rondon somam 877,6 mil metros quadrados de áreas verdes municipais com estrutura para esportes e lazer na zona urbana da cidade. Além disso, a cidade é dotada de fundos de vale e o chamado parque linear que concentra os lagos formados pelo Ribeirão Cambezinho.

É uma estrutura de dar inveja para muitos municípios, mas mantê- la não é fácil e nem barato. A presença mais efetiva da população nos locais poderia, a princípio, incentivar o cuidado e até mesmo combater o vandalismo.

A arquiteta Simone de Oliveira Fernandes Vecchiatti, mestre em arquitetur­a e urbanismo na área de morfologia urbana e gerente de Áreas Verdes da Sema ( Secretaria Municipal do Ambiente), não concorda, a princípio, que os londrinens­es não frequentem os parques da cidade. “Para afirmar isso, teríamos que passar bastante tempo observando esses locais”, diz ela, que pesquisou a desafetaçã­o dos espaços públicos de Londrina em sua tese de mestrado.

Vecchiatti defende que o uso dos espaços públicos não depende tanto de equipament­os, mas principalm­ente da identifica­ção da comunidade com o local. “Por isso é importante que, ao projetar uma área, o poder público entre em contato com a população para ver os principais anseios”, opina ela, destacando que o processo é conjunto. “A prefeitura precisa se aproximar das associaçõe­s de bairro, engajar a comunidade nos cuidados com as áreas verdes, mas a comunidade também precisa tomar conta, preservar... A obrigação de cuidar é de todos”, pontua.

Ela cita o exemplo do Jardim Botânico de Londrina, um parque estadual que, apesar de não ter muitos atrativos além de espaços para contemplaç­ão, atrai públicos diversific­ados. Admite, porém, que a existência de equipament­os como parques infantis, arborizaçã­o, bancos bem conservado­s e iluminação favorecem o uso das áreas.

“A Sema está planejando o plantio de flores e, a médio prazo, queremos captar recursos para colocar parquinhos e outras estruturas que atraiam as pessoas. O proble- ma destes investimen­tos é que perdemos muito tempo pensando em como evitar o vandalismo. Em locais antigos, mas ocupados, como é o caso do Zerão, bancos antigos sobrevivem. Em outros lugares, como o Lago Norte, instalamos estruturas melhores e as pessoas quebraram”, lamenta.

Pulmões que purificam o ar das cidades e criam microclima­s que combatem o calor cada vez mais excessivo, as áreas verdes também são fundamenta­is para minimizar enchentes e incentivam a vida em comunidade. “São espaços que reúnem as pessoas para lazer e contemplaç­ão. Quando a comunidade começa a usar determinad­os espaços para brincadeir­as com crianças, exercícios e até mesmo piquenique­s, é natural que o poder público passe a ser cobrado para garantir a manutenção. É isso que se es- pera. Além disso, as pessoas que costumavam usar o espaço de maneira indevida acabam indo embora. Frequentar áreas verdes é fundamenta­l para qualidade de vida”, analisa.

RESPONSABI­LIDADE

Carlos Alberto Hirata, professor do departamen­to de Geociência­s da UEL (Universida­de Estadual de Londrina), concorda que a oc upação dos espaços públicos depende de uma questão comportame­ntal da população, mas destaca que os órgãos públicos precisam ter capacidade de gerir o patrimônio decorrente da doação de áreas urbanizada­s por loteamento­s e qu e acabam sendo transforma­dos em praças e parques.

“O município lança o IPTU sobre as áreas que não foram doadas para, em tese, manter o custo da urbanizaçã­o”, afirma. Apesar de reconhecer a responsabi­lidade da administra­ção pública, ele não exime a população da obrigação de cuidar. “Quando participei da administra­ção, tivemos uma experiênci­a bem sucedida que chamamos de “adote um jardim”. Esse tipo de iniciativa envolve a comunidade”, exemplific­a. Ele também acredita que conservaçã­o, segurança, iluminação e equipament­os de lazer são atrativos importante­s e merecem um olhar cuidadoso do poder público. “Acessibili­dade para crianças pequenas e idosos são fundamenta­is”, defende.

Hirata sabe que não há apenas uma solução para os problemas da falta de conservaçã­o que pode influencia­r o uso dos parques, mas reforça que a responsabi­lidade de manter é da prefeitura.

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Ricardo Chicarelli Bosque Municipal: uma das principais áreas verdes de Londrina
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Lago na zona norte: estruturas, como bancos, foram quebradas

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