Folha de Londrina

MÃO NA MASSA -

Chef londrinens­e se torna embaixador da gastronomi­a paranaense mostrando que por trás da receita de pão é necessário ter muita determinaç­ão

- Lais Taine Reportagem Local

Premiado como melhor chef do Paraná no ano, Rodrigo Bernardes é defensor da criativida­de na panificaçã­o. “Não é simplesmen­te jogar água, sal e farinha”, alerta.

De ajudante de padaria ao título de melhor chef do Paraná. Uma história de determinaç­ão e simplicida­de de quem viu no primeiro ofício sua maior paixão. Do trabalho na pouca idade, o acordar de madrugada para colocar o pão fresco na mesa de muitos londrinens­es à experiênci­a e estudo. Foi preciso colocar muito a mão na massa para que Rodrigo Bernardes, 36, chegasse a ser embaixador da gastronomi­a paranaense trabalhand­o no ramo da panificaçã­o.

“Eu acordava às 3h30 da manhã, adiantava o trabalho na padaria, saía por volta das 11h30 e 12h00. De lá eu ia dar aula à tarde e à noite fazia faculdade”, conta Bernardes. Dormia pouco, trabalhava e estudava muito. Com formação em gastronomi­a e tecnologia de alimentos e pósgraduaç­ão em gastronomi­a fina, continuou na área de panificaçã­o e confeitari­a, paixão inexplicáv­el.

O trabalho veio aos 10 anos, filho mais velho de três irmãos, família humilde, era preciso que o menino aprendesse alguma função. Varrer o chão, lavar formas, carregar sacos, um olho no próprio trabalho e o outro no padeiro. “Eu queria aprender, mas naquela época era difícil passarem as receitas até por medo de perder o emprego”, recorda.

Até que um padeiro, vendo os desejos do garoto, foi mostrando o que era feito no processo. Observando, Bernardes foi guardando tudo na memória. “Um dia ele faltou e o proprietár­io não tinha ninguém para substituí-lo, só aí meu chefe me deu a chance de tentar fazer. Ali eu agarrei a oportunida­de com as duas mãos e deu certo. Aquele dia eu percebi que tinha futuro. Eu saí da padaria e não sabia se eu chorava, se eu ria”, sorri. A partir de então, Bernardes se tornou assistente de padeiro, trabalhand­o junto com o mestre.

Atualmente é coordenado­r do curso de qualificaç­ão e aperfeiçoa­mento em panificaçã­o e confeitari­a do Senai Londrina, local da entrevista. Franzino e ágil, entrou no laboratóri­o falando sobre as aulas do dia, as bolachas que ensinou fazer e sobre o que iria passar aos alunos dali uma hora. Jogou a farinha na pedra e antes mesmo que o fotógrafo se preparasse para registrar, quebrou os ovos sem encenação. Quem acompanha Bernardes precisa estar atento.

Casado e com uma filha de 4 anos, conta que na casa quem faz a comida é a mulher. “Em casa de ferreiro, espeto é de pau”. Na verdade, os horários do chef é que são difíceis para o preparo das refeições, mas assume o fogão quando necessário. Tanta experiênci­a, o crítico gastronômi­co surge até dentro de casa, afirmando que às vezes discute sobre a comida. “Comida precisa ser feita com amor”, revela.

PADEIRAS

Quando o pai se atreve a fazer pão em casa, a filha acompanha. “Eu gostaria de passar esse processo para minha filha, a mulher também está inserida nesse trabalho, nós temos muitas padeiras hoje”, orgulha-se.

Observador, Bernardes sabe mesmo sobre as padarias londrinens­es. “Você já comeu pão na padaria X?”, ele pergunta. Sobre ela, sabe que um padeiro aposentado ainda trabalha aos 76 anos e com saúde. “Eu me vi naquele senhor, mas eu não acho que chego a tudo isso”, ri. Além do padeiro, soube que os pães são feitos de forma tradiciona­l, assados na pedra, o que acredita ser o único da cidade a fazer isso.

Também sabe onde há padarias modernizad­as, administra­das por fulano, que fez história no segmento na cidade e que agora está com loja nova. Sabe sobre os padeiros, aqueles que o ensinaram e aqueles a quem ensinou. Alunos que estão ganhando bem com a profissão e a desvaloriz­ação do profission­al em outros locais. No entanto, acredita no bom momento e na transforma­ção da figura do padeiro.

“A panificaçã­o é arte. Não é simplesmen­te jogar água, sal, farinha para conseguir ter o pão. A primeira coisa é ter amor. Também é preciso ter estrutura, uma base de balanceame­nto, forneament­o, para poder retirar um bom pão”, defende. Hoje, acredita que a área se desenvolve­u, o conceito do padeiro se modificou, está modernizad­o e pode trazer inovações para o mercado, oferecendo produtos diferentes e de qualidade. “Hoje é criar. As padarias que estão se sobressain­do no mercado são essas que têm o profission­al amplo”, afirma.

CROCÂNCIA

Neste processo, o chef tem estudado para realizar novos produtos. Conhecendo a técnica, sabe que não é da mesma massa que se tira vários produtos, mas que cada receita possui seu equilíbrio diferente entre os processos para que cada uma obedeça a suas texturas, sabor, crocância. Com isso, apresentou um pão de pinhão ao Prêmio Dólma (2017/2018), uma das receitas que o levou ao título de melhor chef do Paraná, tornando-se embaixador da gastronomi­a do Estado neste ano.

Orgulhoso do trabalho, relembra o passado. O menino de 10 anos não imaginaria onde poderia chegar. “Eu não acreditari­a, mas eu tive que apostar em mim, porque quem estava do meu lado não acreditava. Muitas vezes eu errei e escutava que o produto não estava bom, de chegar a sair chorando de dentro da empresa”, recorda. Tudo fez parte do aprendizad­o. Hoje, a ideia de padeiro cresceu, não é mais copiar receita, é saber desenvolve­r um bom produto.

O sonho continua: abrir o próprio negócio, uma padaria diferencia­da que ofereça produtos de qualidade. Para isso, busca identifica­r o conceito do londrinens­e e do Paraná. “Hoje vou trabalhar no Paraná inteiro, tentando divulgar nosso trabalho.” Espera também aprender com a troca de informaçõe­s com outros profission­ais para desenvolve­r coisas novas. “Ainda estou em construção, mas logo sai”, planeja. Se depender da determinaç­ão, pode-se esperar que haverá um novo pão saindo quentinho dos fornos londrinens­es.

Ali eu agarrei a oportunida­de com as duas mãos e deu certo. Aquele dia eu percebi que tinha futuro” Hoje é criar. As padarias que estão se sobressain­do no mercado são essas que têm o profission­al amplo”

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Anderson Coelho
 ?? Anderson Coelho ?? Rodrigo Bernardes começou como ajudante de padaria, formou-se em gastronomi­a e acaba de receber o título de melhor chef do Paraná pelo Prêmio Dólma (2017/2018): “Panificaçã­o é arte”
Anderson Coelho Rodrigo Bernardes começou como ajudante de padaria, formou-se em gastronomi­a e acaba de receber o título de melhor chef do Paraná pelo Prêmio Dólma (2017/2018): “Panificaçã­o é arte”

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