Capacitação profissional na saúde não é integral
A PNAM (Política Nacional de Aleitamento Materno), do Ministério da Saúde, busca a promoção, proteção e apoio à amamentação, que começa logo no nascimento da criança, ainda no hospital, com uma atenção especial aos bebês, gestantes e familiares. O grande desafio ainda é a capacitação profissional para atender a mulher que amamenta e os serviços de saúde precisam estar a postos para acolher, respeitar, escutar e intervir, quando necessário.
Embora o Brasil ainda careça de políticas públicas para incentivo do aleitamento materno, entre elas a expansão do treinamento para todos os profissionais de saúde, o País pode ser considerado uma história de sucesso nessa área, conforme ressalta o médico epidemiologista e professor emérito da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) Cesar Victora, coordenador do estudo “Amamentação no Século XXI”. “Nessa série de estudos, o Brasil aparece como sendo um exemplo para o mundo porque teve o controle da propaganda dos leites em pó, que é proibida, teve a licença-maternidade de quatro a seis meses para todas as mulheres empregadas, teve muito treinamento de profissional de saúde e tem mais de 200 bancos de leite humano, que é a maior rede do mundo. Então, tudo isso conta”, enumera.
Na década de 1980, lembra Victora, a duração média da amamentação entre as brasileiras era de dois meses e meio. Trinta anos depois, a média ultrapassou os 12 meses. “Foi um aumento incrível. Foi o país que mais aumentou o aleitamento no mundo. Essa série de estudos mostra que o Brasil, embora pudesse ser melhor, sem dúvida foi um exemplo de como foi revertida completamente essa tendência que havia nos anos 1950, 1960, 1970, de não dar mais leite materno e dar leite em pó.”
Entre 2001 e 2006, o Ministério da Saúde estabeleceu portarias e resoluções que determinam regras para a comercialização de alimentos e outros produtos para lactentes e crianças de primeira infância a fim de proteger o aleitamento materno do marketing indevido.
Desde 1995, Londrina conta com o Calma (Comitê de Aleitamento Materno), iniciativa da Secretaria Municipal de Saúde por meio da qual o município busca implementar a PNAM. O comitê, instituído por um decreto de 1995, iniciou um trabalho inédito no Brasil e a ideia foi disseminada. Hoje, vários municípios brasileiros têm também os seus comitês de aleitamento.
Integram o Calma 22 instituições não só de saúde, mas de diversas áreas de atuação que se reúnem em encontros mensais. Em 5 de dezembro de 2016 o comitê lançou uma Nota Técnica distribuída aos hospitais e unidades básicas de saúde com considerações sobre a importância do aleitamento materno com o objetivo de garantir a amamentação exclusiva até os seis meses de vida do bebê e a continuidade do aleitamento até os dois anos ou mais, complementado com os alimentos oportunos para a idade da criança.
A Nota Técnica é uma espécie de check list para os profissionais de saúde. “Se essa Nota Técnica for integralmente cumprida, vai ser muito pequeno o número de mães que não vão conseguir amamentar. No Calma a gente trabalha bastante com esse conceito de rede, que pode favorecer o processo de amamentação para que ele possa ser mais eficaz e a mulher possa ter menos problemas relacionados à amamentação”, destacou a coordenadora do comitê, a enfermeira Lilian Poli Castro. “Amamentar é uma opção da mãe, do pai e da família. E essa opção tem que ser consciente, avaliando custos e benefícios. Observamos que, às vezes, essa avaliação não é feita. Se é uma decisão da mãe não amamentar, deve ser respeitada, mas que ela tome essa decisão conscientemente e para isso precisamos de profissionais capacitados para ouvir, instruir e apoiar essa mulher.”
Dentro das políticas públicas para amamentação faz parte também o monitoramento das práticas de aleitamento materno. Em 2008, o Ministério da Saúde realizou a 2ª Pesquisa Nacional de Práticas Alimentares no primeiro ano de vida e o mesmo levantamento foi feito em Londrina. Esse levantamento é o mais recente e o resultado no município apontou índice de aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade abaixo dos registrados no Brasil, na Região Sul e em Curitiba. Em Londrina, apenas 33,8% das crianças foram alimentadas exclusivamente com leite materno nos primeiros seis meses de vida, contra 41% no Brasil, 43,9% na Região Sul e 46,1% na capital paranaense.
Dados da série histórica no município, no entanto, demonstram que há uma evolução no aleitamento materno exclusivo até os seis meses entre 2002 e 2010. Em 2002, a taxa era de 21%, aumentando para 33,8% em 2008 e chegando a 40,5% em 2010. “Temos muito trabalho pela frente ainda. Por isso essas políticas públicas precisam ser incorporadas e trabalhadas”, observou Castro.