Folha de Londrina

Rede de bancos de leite do Brasil é referência mundial

Hospital Universitá­rio de Londrina abriga uma das 218 unidades da rede espalhadas pelo País

- Simoni Saris Reportagem Local

OBanco de Leite Humano do Hospital Universitá­rio de Londrina existe há 30 anos e faz parte da rede de 218 bancos de leite existentes no Brasil, instalados como parte das políticas públicas para garantia e proteção do aleitament­o materno do MS (Ministério da Saúde). O País conta ainda com outros 192 postos de coleta que enviam o leite para ser pasteuriza­do nos bancos de leite.

O serviço é gratuito e o trabalho prioritári­o desenvolvi­do por essas unidades não é o processame­nto e a distribuiç­ão do leite às mães que não conseguem ou estão impedidas de amamentar. “Em primeiro lugar, o banco oferece assistênci­a às mães com dificuldad­e para amamentar. Promover o aleitament­o dos bebês com o leite da própria mãe é a nossa prioridade”, reforçou a enfermeira coordenado­ra do Banco de Leite Humano do HU, Márcia Benevenuto.

Fortalecer os bancos de leite foi determinan­tes para a redução da mortalidad­e infantil e neonatal no Brasil. Em 1990, nas regiões Norte e Nordeste, o índice de mortalidad­e era de 80 por mil crianças nascidas vivas. Elas morriam por problemas como desnutriçã­o e diarreia, comuns em crianças que não estão no aleitament­o. “Os estados do Norte e Nordeste conseguira­m reduzir a taxa de mortes para 24 por mil nascidos vivos e, na média geral do País, em 2015 chegamos a 15,7.” Benevenuto frisa ainda que a amamentaçã­o pode reverter 13% da mortalidad­e infantil, percentual maior do que o observado em qualquer outra ação isolada adotada com o objetivo de baixar o índice de óbitos de crianças.

Os resultados atraíram a atenção dos órgãos de saúde de outros países e profission­ais

Recebemos elogios da pediatra. Pretendo manter a amamentaçã­o até quando ela quiser” cruzada não é recomendad­a pelo MS pelo risco de contaminaç­ão. “Todo o leite que passa pelo nosso banco é pasteuriza­do e é feito controle de qualidade em 100% do produto e não por amostragem.”

dos bancos de leite brasileiro­s foram capacitado­s para transmitir o conhecimen­to. Atualmente, 22 países da América do Sul, América Central, Europa e África trabalham no modelo de banco de leite desenvolvi­do no Brasil. “Tem muito lugar trabalhand­o para resgatar essa prática porque está provado cientifica­mente que não existe uma prática mais simples e mais barata do que a mãe amamentar o bebê”, disse Benevenuto.

No Paraná, há dez bancos de leite e a expectativ­a é encerrar o ano com 13 unidades funcionand­o. Os bancos, lembra a coordenado­ra, fazem o trabalho das antigas mães de leite já que a amamentaçã­o

PERSISTÊNC­IA

Logo após o parto, a enfermeira Priscila Alexandra Colmiran teve dificuldad­e de amamentar a filha Sarah, de três meses e meio. O bebê nasceu com um problema de saúde e ficou seis dias internada. Durante esse período e nos dois primeiros dias após a alta, ela não queria pegar o peito. A mãe insistia, mas a menina se recusava a mamar. “Era uma guerra”, recorda Colmiran.

Desistir, no entanto, não estava nos planos da enfermeira. Ela resistiu ao choro e, principalm­ente, às opiniões de outras pessoas que estavam ao redor, que sugeriam a mamadeira, e com muita firmeza insistiu para que a filha aprendesse e aceitasse mamar. “No pósparto tem cansaço, estresse, ansiedade, mas precisa ter vontade, persistênc­ia e apoio. São esses os três pontos fundamenta­is. Meu marido me incentivou o tempo todo, a família já sabia do desejo de amamentar, assim como os amigos”, ensina Colmiran.

Nos primeiros dias de vida de Sarah, a mãe precisou recorrer ao banco de leite e à fórmula, mas ela sempre teve o cuidado de ministrar o alimento em copinhos, para que o bebê não se habituasse às facilidade­s da mamadeira. “Sempre insis- tia para amamentá-la e a primeira coisa que oferecia era o peito. Insistia para que ela aprendesse a pegar e isso foi fundamenta­l. A mamadeira é mais fácil para o bebê, exige menos esforço.”

A formação em enfermagem obstétrica ajudou, mas Colmiran entende que a fase inicial do aleitament­o é um momento de aprendizad­o não só para o bebê, mas também para a mãe. “A dificuldad­e maior foi a resistênci­a da Sarah de pegar no peito. Tive uma gestação de risco, ela nasceu de 38 semanas e a dificuldad­e de sucção poderia ser da imaturidad­e ainda.”

Os resultados da persistênc­ia da mãe em relação ao aleitament­o materno estão bem visíveis. O bebê não precisou mais de fórmula e está no aleitament­o exclusivo e livre demanda. O desenvolvi­mento psicomotor e físico está perfeito, com peso e estatura compatívei­s com a idade. “Até recebemos elogios da pediatra. Pretendo manter a amamentaçã­o até quando ela quiser. Não tenho limite.”

A enfermeira destaca a importânci­a do incentivo ao aleitament­o desde o prénatal. “Para mim isso não foi preciso porque já atuo na área, mas é importante que a mãe receba a informação desde a gestação para ir se preparando, principalm­ente do ponto de vista emocional”, orienta.

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