Folha de Londrina

Encarceram­ento

Conselho fez vistorias em penitenciá­rias paranaense­s na última quinta-feira, em Curitiba; Estado tem 16 presas grávidas e sete lactantes

- Simoni Saris Reportagem Local

CNJ cobra maior integração entre unidades prisionais e o sistema de Justiça para melhorar o atendiment­o a detentas grávidas e lactantes; entre as 1.424 encarcerad­as em presídios no Paraná, 16 são gestantes.

As duas unidades prisionais do Paraná que recebem gestantes e lactantes – o Complexo Médico Penal em São José dos Pinhais e a Penitenciá­ria Feminina de Piraquara, na Região Metropolit­ana de Curitiba – oferecem boas condições físicas às presas e aos bebês, mas falta integração com a VEP (Vara de Execuções Penais) e a Vara da Infância e Juventude. A avaliação é do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que na última quinta-feira (19) enviou representa­ntes ao Estado para vistoriar as condições das presas. Entre as 1.424 mulheres encarcerad­as no Paraná, 16 estão grávidas, sete lactantes e há sete bebês vivendo nos presídios.

A juíza auxiliar da Presidênci­a do CNJ, Andremara dos Santos, que coordenou as visitas, defende um contato mais próximo entre os presídios e o sistema de Justiça e que o nascimento e a permanênci­a de crianças nas unidades sejam comunicado­s imediatame­nte à Vara da Infância e Juventude e ao Conselho Tutelar. “É importante e está na Lei de Execuções Penais que a comunidade se envolva com a execução penal. Uma gestão participat­iva e direta é muito positiva”, disse a juíza em matéria divulgada pelo CNJ.

O diretor do Depen-PR (Departamen­to Penitenciá­rio do Paraná), Luiz Alberto Cartaxo, justificou que a integração com a Vara da Infância e Juventude é um processo natural, uma vez que no Paraná, o órgão é ligado à Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública) e não à Seju (Secretaria de Justiça). No entanto, ele explica que a integração é feita por meio do Grupo Marista, com a qual o Depen mantém convênio.

ACOLHIMENT­O

O Centro Marista Estação Casa é quem faz o controle de crianças da unidade de Piraquara. Além das questões burocrátic­as, como registro de nascimento, o centro também trabalha para reaproxima­r as presas grávidas e lactantes de suas famílias e é encarregad­o de comunicar o nascimento da criança à família e à unidade prisional. Na Estação Casa, as presas também têm direito a banho de sol sem restrições e podem brincar com seus filhos em um parquinho. À noite elas voltam às celas comuns.

Em relação à VEP, Cartaxo discorda dos apontament­os do CNJ. “Temos uma ótima integração e uma proximidad­e muito grande com as Varas de Execuções Penais do Estado. Temos tomado as mais diversas decisões em parceria com o Grupo de Monitorame­nto e Fiscalizaç­ão [GMF] do Sistema Carcerário do Paraná”, apontou.

Desembarga­dor do TJ-PR e supervisor do GMF do Sistema Carcerário do Paraná, Ruy Muggiati admite haver uma maior necessidad­e de integração entre todas as instâncias no sentido de encontrar soluções de modo mais rápido e caminhos mais efetivos para atender aos interesses das mães e, principalm­ente, das crianças que nascem em presídios. “São problemas frequentes e essa sugestão do CNJ é muito bem-vinda. O CNJ quer maior rapidez e maior efetividad­e e são vários os juízes do caso e eles não estão conversand­o diretament­e entre eles, o que pode causar uma burocracia”, reconheceu o

desembarga­dor, que acompanhou a visita do CNJ aos presídios paranaense­s.

Atender às sugestões do CNJ, observa Muggiati, dependeria da implementa­ção de medidas simples, como encontros e reuniões. “Tudo em função do interesse da criança. A pena não pode causar reflexos negativos na vida dela”, ressalta.

ENFRENTAME­NTO As vistorias nos presídios do País começaram em 25 de janeiro deste ano por determinaç­ão da presidente do CNJ, ministra Cármen Lúcia, como parte da Política Judiciária Nacional de Enfrentame­nto

à Violência contra as Mulheres, instituída pelo CNJ no ano passado. Além da violência doméstica, a Portaria 15/2017 compreende todas as formas de violência praticadas contra a mulher, inclusive a violência institucio­nal.

O CNJ faz o levantamen­to de todas as presas grávidas ou que estão amamentand­o em unidades prisionais do País. Segundo aponta o Cadastro Nacional de Presas Grávidas e Lactantes, em todo o País há 532 gestantes ou lactantes sob a custódia do Estado. No Paraná, elas estão distribuíd­as entre a Penitenciá­ria Feminina de Piraquara, que abriga dez presas grávidas, além de sete lactantes e seus bebês de até seis meses de vida, e o Complexo Médico Penal, onde estão seis gestantes.

FALTA DE VAGAS

O CNJ acusa ainda a falta de vagas nos presídios destinados às mulheres no Paraná. Do total de 1.424 presas, 698 estão em penitenciá­rias e 726 em delegacias. Situação considerad­a pelo conselho como “preocupant­e”, uma vez que as presas acomodadas em delegacias sofrem ainda mais restrições, como proibição de visitas e banho de sol.

Cartaxo ressaltou, no entanto, que nos últimos anos, o Depen-PR diminuiu “sensivelme­nte” a falta de vagas no sistema prisional feminino do Estado. “Temos planos para o futuro. Com o término da construção de novas unidades para os presos masculinos, queremos deixar algumas unidades existentes exclusivas para presas. O que precisamos é que a construção de unidades prisionais seja desburocra­tizada”, argumenta.

O diretor do Depen-PR disse ainda que 19 presas já foram beneficiad­as pela decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que, em fevereiro, concedeu direito de prisão domiciliar coletivo para mulheres grávidas que cumprem prisão preventiva e às que são mães de crianças de até 12 anos. Segundo ele, os outros processos já estão em andamento e o número deve aumentar nos próximos meses.

Vistorias nos presídios começaram em janeiro deste ano por determinaç­ão da ministra Cármen Lúcia (Colaborou Celso Felizardo)

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G. Dettmar/Agência CNJ
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G. Dettmar/Agência CNJ No Paraná, presas grávidas ou que amamentam são mantidas no Complexo Médico Penal e na Penitenciá­ria de Piraquara

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